Por Andrea Shalal

WASHINGTON (Reuters) – O Federal Reserve deve apertar a política monetária em breve e decisivamente para evitar o que pode se tornar uma inflação “bastante persistente”, disse a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, em entrevista à Reuters.

Reinhart, que vem alertando há algum tempo que choques na cadeia de abastecimento podem resultar numa inflação sustentada nos Estados Unidos e em outros lugares, disse que qualquer atraso do Fed no aumento dos juros apenas prolongaria o problema.

“Se a inflação é realmente mais persistente, minha conclusão sobre a política monetária do Fed é… que se você fizer mais agora, se sairá melhor do que se fizer muito pouco e tarde demais”, disse Reinhart, antes da divulgação do Relatório de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial.

Reinhart disse que o Fed têm sinalizado um aperto modesto pelos padrões históricos, mas pode mudar de marcha diante de dados recentes.

“Sou da opinião de que, se a tendência é atrasar a ação e ser mais cauteloso, isso é basicamente apenas empurrar o problema para o horizonte”, acrescentou.

Reinhart vem argumentando há cerca de um ano que é improvável que o aumento da inflação seja temporário, porque os choques na cadeia de suprimentos afetaram os preços das commodities, custos de transporte e outros setores. E as tensões crescentes entre a Ucrânia e a Rússia têm exacerbado as pressões inflacionárias que fizeram os preços do petróleo saltarem 77% de dezembro de 2020 até o mês passado.

“Tudo isso não é temporário, e a inflação prova que poucas coisas na vida são permanentes, mas muitas são bastante persistentes”, disse ela.

As autoridades do Federal Reserve continuam divididas sobre o quão agressivos serão ao aumentar os juros em sua reunião de março.

Em um artigo publicado na semana passada, Reinhart e o economista do Banco Mundial Clemens von Luckner observaram que uma resposta de política monetária mais oportuna e robusta dos principais bancos centrais aumentaria os custos de financiamento para mercados emergentes e economias em desenvolvimento, e poderia piorar as crises de dívida existentes.

Mas eles disseram que os custos de longo prazo de adiar a ação seriam grandes.

Como os Estados Unidos e outras economias avançadas não conseguiram combater a inflação rapidamente durante a década de 1970, eles acabaram precisando de políticas monetárias muito mais draconianas, o que desencadeou a segunda maior recessão pós-Segunda Guerra Mundial nos EUA e uma crise da dívida nos países em desenvolvimento, escreveram eles.

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