A Justiça de Limeira, no interior de São Paulo, intimou a prefeitura a comprovar a realização de testes sorológicos em capivaras que habitam um parque público da cidade para detectar se estão contaminadas com a bactéria causadora da febre maculosa. Por medo da doença, moradores querem a remoção dos animais.

Em março deste ano, uma pessoa de 17 anos morreu devido à febre maculosa. A cidade de Campinas, que fica na mesma região, considerada endêmica para a doença, registra um surto de febre maculosa que já causou quatro mortes só neste mês.

A intimação foi expedida no último dia 5, em uma ação civil pública movida em 2018 pela Associação de Moradores e Amigos do Jardim Aeroporto. Na época, a entidade solicitou judicialmente a remoção dos animais que habitam o Parque Ecológico do Jardim do Lago, uma área verde onde vivem cerca de 40 capivaras, alegando o risco da doença. O parque é aberto à visitação pública e, segundo o município, já recebeu aplicação de carrapaticida e tem placas sinalizando a possível presença do carrapato.

Em outubro de 2022, a Justiça já havia pedido à prefeitura um cronograma para a realização dos exames sorológicos nos roedores. Na época, a Secretaria da Saúde informou que estudava uma estratégia para realizar a sorologia em conjunto com os órgãos ambientais. Nesta quinta-feira, 15, a prefeitura disse que depende de autorização por parte do Estado para o procedimento e que há um pedido dessa licença feito à Secretaria Estadual e Meio Ambiente. Conforme o município, todas as informações foram repassadas à Justiça.

Além do óbito registrado em março, cinco casos suspeitos de febre maculosa estão em investigação na cidade. No ano passado, houve três mortes.

A prefeitura informou que, ao ser notificada de caso suspeito, a Divisão de Zoonoses faz investigação para identificar o local provável da infecção e o levantamento acarológico. Não houve registro recente de casos cujo local de infecção tenha sido o parque. Outros locais da cidade, como o Horto Florestal, a Lagoa do Bortolan e uma área verde do Jardim Novo Horizonte têm capivaras e potencial para a presença do carrapato, e também estão sinalizadas.

O presidente da associação, Mariano Freire dos Santos, disse que o objetivo da ação é a remoção das capivaras para outro local. “Nossa sugestão é que sejam levadas para o Horto Florestal, pois lá tem mais espaço. O Parque do Lago é a única área de lazer do bairro, tem pista de caminhada e recebe até mil pessoas por fim de semana, inclusive muitas crianças. A gente tem medo que peguem a febre maculosa, como já aconteceu aqui e está acontecendo em outras cidades.”

Segundo ele, a reivindicação será reiterada à prefeitura em reunião do Conselho Municipal de Saúde, do qual faz parte, no próximo dia 27. “Não queremos que matem as capivaras, só que levem para outro lugar melhor para elas”, disse.

A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) informou que, em 2019, a prefeitura de Limeira deu entrada na solicitação de autorização para o manejo de capivaras. Foram solicitados documentos adicionais ao projeto apresentado na ocasião, sendo que a última complementação do município foi realizada no fim do mês passado. Os dados estão em análise e, caso estejam corretos, a Semil emitirá a autorização de manejo dentro do prazo legal previsto.

Conforme a pasta, é importante manter os frequentadores e profissionais do parque informados sobre o risco de transmissão da febre maculosa, por meio de placas informativas e de capinagem da vegetação de gramíneas para redução dos abrigos de carrapatos. “A Secretaria acompanha, junto às autoridades de saúde municipal e estadual, o monitoramento de carrapatos estrela na localidade”, disse, em nota.

Foco no carrapato

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), infectologista Júlio Croda, a medida mais eficaz para evitar a febre maculosa é fazer o manejo do carrapato-estrela, não o da capivara. “É possível fazer o tratamento de algumas áreas para eliminar o carrapato, bem como cuidar dos equinos que estão nessas áreas, obtendo assim o controle do vetor. O que não existe é a possibilidade de eliminar as capivaras. Daqui há pouco vão querer matar as capivaras do Brasil inteiro. Isso não resolve, porque existem outros animais que podem ser parasitados, como os cavalos”, disse.

Ele salientou que a região de Campinas, onde acontece o surto atual, é propícia para o aparecimento da bactéria do gênero Ricketssia. “Esta região do estado de São Paulo, assim como de outros estados do Sudeste, apresentam condições particulares de temperatura, umidade e de ambiente que favorecem a bactéria. Temos uma grande população de capivaras em parques públicos urbanos de Campo Grande (MS), por exemplo, mas não há casos de febre maculosa porque as condições não são boas para a bactéria.”

Segundo o especialista, as medidas anunciadas pela prefeitura de Campinas e já tomadas pela prefeitura de Limeira estão no caminho certo. “É preciso mapear e sinalizar os locais onde há carrapatos, informar moradores e visitantes para que evitem esses locais e, se ainda assim passarem por eles, ficarem muito atentos ao carrapato no corpo. Assim que surgir algum sintoma, a pessoa deve procurar ajuda médica de forma imediata, informando que esteve em local com carrapato.”