A pandemia do novo coronavírus gerou um inesperado desequilíbrio no mercado de motocicletas. A produção despencou, com a suspensão das atividades das fábricas para proteger funcionários do risco de contágio. A demanda por motos, porém, foi estimulada pelos serviços de entrega, que cresceram durante o período de isolamento social. Resultado: chegou a haver falta de motos no mercado, em especial os modelos mais baratos (de até 150 cilindradas), para atender à demanda crescente dos entregadores.

“Cresceu muito o transporte de malote de pequeno peso, de medicamentos, de alimentos. Mas não tem moto para vender, porque falta produção”, resumiu o presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Alarico Assumpção Júnior, ao Estadão/Broadcast.

A produção de motos, que está concentrada sobretudo em Manaus, teve um ritmo mensal médio de 92 mil unidades em 2019. Em abril deste ano, saíram das linhas de produção apenas 1,4 mil motocicletas; em maio, foram 14,6 mil, de acordo com dados da Abraciclo, entidade que representa o segmento de motocicletas e bicicletas.

Enquanto a produção ficou quase paralisada, cresceu muito o uso da motocicleta para fins profissionais. “A moto já era um veículo bem integrado à sociedade brasileira, com 25% de participação na frota circulante. Agora, passou a ser um instrumento que permitiu que grande parte das famílias conseguisse ficar em casa”, disse o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian.

Não houve uma explosão de venda de motos no País. O que ocorreu foi um desequilíbrio entre oferta e demanda por causa do corte radical da produção – as fábricas ficaram quase paradas em abril, enquanto produziram apenas um sexto da média de 2019 em maio. Em contrapartida, foram vendidas 28,8 mil motocicletas em abril; em maio, o total ficou em 28 mil.

Peso no bolso

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Com o descompasso, os preços subiram. Em junho, as motos ficaram 1,12% mais caras em relação a maio, bem acima da inflação de 0,26%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE.

Os motoboys sentem os efeitos da escassez de moto na prática. Wesley Amaro de Souza, 26 anos, comprou uma moto em abril por R$ 12 mil. “Meu primo, em dezembro, conseguiu comprar por algo em torno de R$ 10 mil. E uma semana depois de eu ter comprado a minha, um conhecido pagou R$ 13 mil pelo mesmo modelo”, relatou.

Wesley pretende colocar placa vermelha no veículo, para poder receber um pouco mais nos serviços. “Algumas empresas pedem a placa vermelha como requisito para o trabalho”, diz. Por causa de atrasos na prestação do serviço durante a pandemia, ainda não conseguiu fazer o emplacamento do veículo, o que o impede de rodar.

As entregas que tem feito por enquanto não são aquelas por aplicativo. Casado com uma fotógrafa, ele leva para os clientes da mulher os álbuns de fotografias – o que acaba reduzindo o custo do trabalho dela. “Eu tinha um emprego certo, mas, como não consegui a placa ainda, acabei perdendo a vaga.”

Normalização

Com a redução do registro de casos e de mortes na capital do Amazonas – que teve um dos maiores índices de infecção por covid-19 por total de habitantes do País -, o presidente da Abraciclo acredita que o mercado volte ao equilíbrio.

Os resultados do mês de junho já corroboram a visão de Fermanian. A produção atingiu 78 mil unidades, número bem mais próximo da média do ano passado e acima do total de vendas, que alcançou 45,5 mil unidades – uma alta de 57,1% em relação a maio, mas queda de 42,7% sobre o desempenho de junho do ano passado.

O representante da Abraciclo disse ainda que uma retomada mais forte do varejo vai colaborar para a ampliação das vendas de motocicletas no País nos próximos meses.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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