A vida do ex-presidente americano Theodore Roosevelt parece uma obra de ficção. Ele lutou pela independência de Cuba contra os espanhóis, construiu o canal do Panamá, liderou expedições na África e ainda ganhou o Nobel da Paz após intermediar um acordo entre a Rússia e o Japão, em 1905. Foi também um pioneiro da preservação ambiental, criando parques nacionais e a Polícia Florestal. Em 1913, após ser derrotado na campanha para a reeleição, decidiu vir ao Brasil para participar de uma expedição na Amazônia ao lado do explorador brasileiro Marechal Cândido Rondon. Acompanhado pelo filho, Kermit, e por uma comitiva de cientistas, a missão recolheu material para o Museu de História Natural, em Nova York, e mapeou o curso do Rio da Dúvida, rebatizado em sua homenagem como Rio Roosevelt.

AMIZADE Cândido Rondon e Theodore Roosevelt: relação respeitosa, apesar da diferente visão de mundo (Crédito:Helena Barreto)

A aventura na Amazônia serviu de inspiração para “O Hóspede Americano”, minissérie criada e dirigida por Bruno Barreto. Com um elenco internacional liderado por Aidan Quinn (Roosevelt), Chris Mason (Kermit) e o brasileiro Chico Díaz (Rondon), a produção tem quatro episódios e estreia em 26 de setembro na HBO Max. “A base do enredo é a relação entre Rondon e Roosevelt, contada pelos olhos do presidente americano porque ele era o peixe fora d’água nessa história”, afirma Barreto. Segundo o diretor, o projeto nasceu como um filme, mas o protagonista era tão complexo que ele decidiu transformá-lo em minissérie: “Em vez de contar apenas a jornada amazônica, achei que seria interessante adicionar o background político de Roosevelt nos EUA.”

“Roosevelt percebeu naquela época que teríamos problemas com o meio ambiente”
Adam Quinn, ator

O roteirista Matthew Chapman soube explorar bem a contradição entre as visões dos líderes da expedição. “Rondon vislumbrava um futuro em que a civilização chegaria à Amazônia. Roosevelt o alertava de que, se isso acontecesse, seria a ruína da região. Acredito que a opinião do americano estava mais correta que a do brasileiro”, diz Chapman. “É uma história muito contemporânea, mesmo tendo acontecido há um século. A diferença é que estamos falando de homens cultos e preparados, enquanto os políticos de hoje não têm essa profundidade.”

AVENTURA Exploração científica: mapeamento do Rio da Dúvida, rebatizado como Rio Roosevelt (Crédito:Helena Barreto)

Natureza selvagem

“Eu pedi a Deus que me mandasse um personagem como esse”, celebra o ator Aidan Quinn. “No momento em que terminei o roteiro percebi que seria o papel mais difícil da minha carreira e que eu não tinha alternativa a não ser aceitá-lo.” Para o ator, abordar a preservação da Amazônia é um dos temas mais essenciais da atualidade: “O presidente demonstrava um amor puro e verdadeiro pela natureza. Ele percebeu naquela época que teríamos problemas com o meio ambiente.”

A trama de “O Hóspede Americano” se alterna entre a trajetória política do presidente e sua jornada diante da vida selvagem amazônica. Nos EUA, ele tinha de lidar com homens como o banqueiro J.P. Morgan, que usava seu poder econômico para pressioná-lo. Na Amazônia, suas preocupações eram outras: as ameaças dos índios, a malária e os problemas de saúde que quase lhe custaram a vida. Ao final da viagem, voltou aos EUA e à mulher por quem era apaixonado, Edith. A tranquila vida familiar, no entanto, não era para ele: Roosevelt logo embarcou para a Europa, onde combateu na Primeira Guerra Mundial. “O Hóspede Americano” é uma série à altura do personagem extraordinário que a inspirou.