O Brasil enfrenta nesse momento dois enormes desafios para impedir a proliferação da febre amarela. O primeiro é adotar de uma vez por todas medidas efetivas de contenção dos mosquitos responsáveis pela transmissão do vírus responsável pela enfermidade. Fala-se aqui de ações de barreiras epidemiológicas listadas em qualquer bom manual de saúde pública do mundo. O segundo é convencer a população de que a maneira realmente eficaz de proteção é a vacina e que ela é segura o suficiente para compensar o baixo risco de efeitos colaterais. Essa nova batalha, especificamente, é resultado de uma desastrosa política de informação das autoridades de saúde que, no início do ano, não souberam conter o pânico que tomou conta das cidades com a escalada de casos e, agora, não são certeiras o bastante para sensibilizar as pessoas sobre a importância e urgência de se vacinarem.

Ao contrário do que se viu semanas atrás, quando filas imensas se formaram nos postos de atendimento, o que se observa hoje é a sobra do remédio nesses mesmos pontos, entre os quais estão as maiores áreas de risco. Segundo o Ministério da Saúde, até a segunda-feira 19, apenas 25,2% do público-alvo previsto foi vacinado no Sudeste. No Rio de Janeiro, nove milhões de pessoas haviam sido imunizadas, quando a meta são 14 milhões. Em São Paulo, cerca de três milhões de indivíduos receberam as doses do imunizante. É preciso, no entanto, proteger 9,2 milhões.

Por trás de ambas as situações ­— a busca desesperada e a resistência à vacina — está o medo. E, por trás dele, falhas injustificáveis de comunicação. Assim que surgiram os primeiros casos de reações graves ao imunizante, dias após a corrida aos postos, muita gente foi tomada pelo pânico de morrer em decorrência do remédio, e não da doença. E novamente não houve resposta rápida para evitar a onda de desinformação. “A situação é absurda”, critica a médica Ana Karolina Marinho, coordenadora do Departamento de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. “É uma falha muito grave de organização e nas campanhas educativas.”

Em janeiro, foram registrados no País 391 casos de eventos adversos decorrentes da vacina. Desses, 372 classificados como não graves. A literatura médica ensina que complicações sérias, que levam à morte, ocorrem em uma a cada 400 mil pessoas. Estatisticamente, é um risco muito baixo diante do benefício da imunização. Mas a mensagem não está sendo transmitida com eficiência. A empresária Miriam Lago, de São Paulo, está entre as pessoas que ficaram com receio e preferiram não se vacinar. “Só tomaria se houvesse um surto da febre nas cidades”, diz. Por enquanto, a transmissão está circunscrita à regiões próximas de matas.

Ao longo da semana passada, foram anunciadas algumas medidas para tentar atingir a meta da cobertura vacinal. No âmbito paulista, a secretaria estadual de saúde informou que prorrogará por mais duas semanas a campanha de vacinação. Na esfera federal, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, veio à público para dizer que o órgão estuda ampliar a vacinação para todo o país nesse ano. De acordo com Barros, a proposta será discutida com os Estados e entidades internacionais.

CALMARIA Nos locais de vacinação não há mais filas ou atropelos (Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil)

Nenhum representante do Ministério da Saúde se dispôs a responder aos questionamentos da reportagem de ISTOÉ a respeito das falhas nas ações de conscientização. O órgão limitou-se a responder, por meio de nota, que realiza campanhas desde 2017 e que não há risco de sobrar vacinas porque serão aproveitadas ao longo do ano. Melhor seria se elas estivessem sendo usadas agora, nas localidades onde a doença ainda avança. Entre julho de 2017 a 20 de fevereiro deste ano, o Brasil confirmou 504 casos da enfermidade e 164 óbitos.

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