No início de todos os seus combates, Robson Conceição faz o sinal da cruz e ergue o braço em direção ao céu, o que pode causar certa apreensão em quem está assistindo a luta. Como seu gesto sempre acontece depois que o sino foi batido, a proximidade com o oponente deixa uma brecha para um primeiro golpe. Nas quartas-de-final, Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão, pareceu ter esperado o brasileiro completar a sua fé, já no centro do ringue. No confronto seguinte, Robson manteve uma distância prudente do cubano Lázaro Alvarez. Fez bem, pois a rivalidade entre eles não permite sinais de compaixão. Tanto que, no final, Alvarez e a equipe técnica de Cuba contestaram a decisão unânime dos juízes a favor do brasileiro. “Ele é muito marrento”, disse Robson, depois da vitória. “Hoje ele teve o que mereceu.”

Robson_Conceição_YuriCORTEZ_AFP_1280x720Yuri Cortez/AFP

Esse mesmo ritual Robson Conceição vai cumprir pela última vez na Olimpíada às 19h15 desta terça-feira. A luta contra o francês Sofiane Oumiha decidirá quem será o medalha de ouro da categoria peso ligeiro (até 60 quilos). Se nos dois confrontos anteriores Robson tinha vencido uma e perdido outra para os adversários, desta vez o confronto é inédito. “Temos um extenso material gravado com as lutas dele e vamos analisá-lo”, diz Mateus Alves, um dos treinadores da equipe brasileira de boxe. “Depois, definiremos a estratégia para o combate. O Robson está muito focado e preparado nessa sua terceira participação olímpica.”

Dificilmente o torcedor verá uma luta contra Oumiha tão intensa como foi a semifinal entre Robson e Alvarez, considerada a final antecipada da categoria. Naquele combate, a técnica refinada do cubano foi menos eficiente que a determinação do brasileiro. Em busca do ouro inédito para o boxe nacional, Robson tem um motivo a mais para conquistar a medalha dourada: presentear a filha Sofia, que completa dois anos no dia 19 de agosto. Com essa promessa, vai ser ainda mais difícil derrubá-lo.

Yuri Cortez/AFP