As autoridades americanas vasculhavam nesta segunda-feira o passado de Omar Mateen, autor do pior ataque terrorista em solo americano desde 11 de setembro, para sondar a realidade de suas ligações com o grupo Estado Islâmico (EI), que reivindicou a responsabilidade pelo ataque.

A Polícia Federal (FBI) identificou o atirador ainda no domingo, Omar Seddique Mateen, de 29 anos e nascido em Nova York, como o autor do ataque que atingiu o “Pulse”, uma boate gay em voga nesta cidade da Florida, mais conhecida por seus parques de diversões.

O ataque deixou 49 mortos, além do atirador, e 53 feridos, e causou uma onda de choque e indignação em todo o mundo. Testemunhas descreveram cenas de horror, de corpos caindo e um banho de sangue.

O presidente Barack Obama afirmou nesta segunda-feira que não há evidências claras de que o atirador responsável pela chacina tenha sido “direcionado por um grupo no exterior”.

Alertando que as investigações do caso estão em seu estágio preliminar, o presidente disse que Omar Mateen aparentemente “absorveu várias informações de extremistas” achadas na internet.

“Parece que foi de última hora que ele anunciou sua lealdade ao EI, mas não há evidências até agora de que de fato ele foi direcionado por eles”, afirmou.

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O FBI, além de conduzir uma investigação completa no local do massacre, também mobilizou recursos significativos para vasculhar o passado de Omar Mateen.

“A investigação continua e apenas esta noite processamos uma centena de pistas”, informou nesta segunda-feira o agente especial Paul Wysopal, encarregado do caso. “Como vocês sabem desde os ataques de 11 de setembro não deixamos nenhuma pista para trás e é a mesma coisa hoje”, alertou.

O assassino, funcionário de uma empresa de segurança, atacou o Pulse às 2h00 da manhã de domingo com um rifle e uma pistola. Depois de matar várias pessoas, ele se entrincheirou no banheiro com reféns e telefonou aos serviços de emergência para reivindicar sua “lealdade” ao grupo Estado Islâmico.

Um dos feridos, Angel Colon Jr., descreveu a seu pai um agressor confiante, que agiu de forma metódica.

“Ele passava por cada pessoa caída no chão e atirava para ter certeza de que ela estava morta”, disse ao sair do hospital Orlando Regional Medical Center, Angel Colon, após visitar seu filho.

Eventuais laços terroristas

O massacre lembra o cometido na casa de espetáculos parisiense Bataclan, em 13 de novembro, com uma tomada de reféns que foi seguida de um massacre.

“Quando a situação parecia estável e o suspeito estava no banheiro, nossos negociadores falaram com ele e não houve disparos neste momento”, indicou o chefe de polícia John Mina.

“Mas ele falou sobre coletes explosivos, explosivos colocados em todas as partes, bem como declarações sobre outras mortes iminentes, e é por isso que tomamos a decisão” de invadir o local. “Sabíamos que era a decisão certa e acreditamos que conseguimos salvar muitas, muitas vidas”, acrescentou.

Perguntado se as vítimas foram atingidas por balas da polícia, Paul Mina disse que estava investigando para determinar: “pito ou nove dos nossos agentes da SWAT (as unidades de elite) abriram fogo”, informou o chefe de polícia.

O suspeito era supervisionado pelo FBI, que o interrogou três vezes entre 2013 e 2014 por “eventuais laços com terroristas”.


O primeiro interrogatório aconteceu em 2013 sobre palavras radicais que ele teria proferido em seu local de trabalho. Após interrogar seus colegas, monitorar e verificar seus passos, o FBI não foi capaz de provar que Omar Mateen tinha realmente feito as declarações e encerrou o caso.

Um ano depois, um novo interrogatório, desta vez sobre suas ligações com Moner Mohammad Abusalha, um americano da Flórida que se juntou ao grupo Estado Islâmico antes de morrer em um atentado com caminhão-bomba em maio de 2014.

O FBI considerou na época que o contato entre os dois homens era “mínimo” e que “não havia uma relação significativa ou uma ameaça”.

De acordo com a CNN, o assassino visitou em 2011 e 2012 a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos para realizar peregrinações religiosas.

Sua família garante que seu ato não tem ligação com a religião, acreditando em razões meramente homofóbicas. Citando um passado marcado pela violência doméstica, sua ex-mulher afirma que nunca o viu apoiar o terrorismo.

O Estado Islâmico confirmou, por sua vez, em sua rádio, a reivindicação do massacre de Orlando.

Deixado em liberdade, sem antecedentes criminais, Omar Mateen tinha duas licenças para a compra de armas, com as quais adquiriu, alguns dias antes do ataque, uma pistola e uma arma longa.

Controle das armas

O tiroteio, o pior da história dos Estado Unidos, provocou uma onda de comoção e homenagens em todo o mundo.

O papa Francisco evocou “uma nova manifestação de uma loucura mortal e de um ódio insensato”.

Em Orlando, as primeiras manifestações ocorreram no domingo, principalmente em uma igreja na presença do governador Rick Scott, mas outra, maiores são esperadas nesta segunda-feira.

A associação de defende dos direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) Equality Florida anunciou uma manifestação nesta segunda à noite no lago Eola, um dos muitos lagos que salpicam a área.


As autoridades começaram a divulgar os nomes das vítimas, conforme a identificação avança. Entre as vítimas – com entre 19 e 50 anos – muitos nomes hispânicos.

O candidato presidencial republicano à Casa Branca Donald Trump disse que o ataque validava a sua proposta de proibir os muçulmanos de entrar em território americano.

“Desde 11 de setembro, centenas de migrantes e seus filhos se viram envolvidos no terrorismo nos Estados Unidos”, disse ele em um comunicado.

Já a democrata Hillary Clinton considerou que os Estados Unidos “devem atacar o problema da auto-radicalização”, afirmando que se for eleita mobilizará meios e criará “uma equipe dedicava para detectar e prevenir os ataques de lobos solitários”.

Mas o debate parecia se orientar na direção de um tema mais recorrente, o controle de armas nos Estados Unidos.

Para o presidente Barack Obama, o ataque de domingo é “um lembrete da facilidade com a qual alguém pode obter uma arma que lhe permite atirar em pessoas em uma escola, lugar de culto, cinema ou boate”.

O presidente americano também apelou para a unidade.

“Estamos avaliando todas as motivações do assassino, mas isso é uma recordação de que, independente de raça, religião, fé ou orientação sexual, somos todos americanos”.

“Precisamos cuidar de um dos outros e proteger uns aos outros todo o tempo diante desse tipo terrível de ato”, concluiu.

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