Passava pouco mais de 5h30 da manhã, na primeira semana de agosto passado, em Arlington, no estado do Texas, EUA, quando cerca de 20 policiais do Federal Bureau of Investigation (FBI) chegaram ao pacato bairro de Woodley Park. Eles bloquearam a rua onde mora a influencer brasileira Patrícia Lélis Bolin e entraram na casa dela de posse de um mandado de busca e apreensão de computadores, celulares e documentos referentes à sua vida profissional e pessoal. Foi o desfecho de uma longa trajetória de polêmicas.

A brasileira se passava por advogada de emigração que ajudava clientes estrangeiros a obterem vistos E-2 e EB-5 para os Estados Unidos ilegalmente. O programa oferece residência permanente legal e possível cidadania para o estrangeiro que investir em empresas lá.

Patrícia é acusada pela Justiça americana dos seguintes crimes:
• fraude eletrônica,
• roubo de documentos,
identidade falsa,
• desvio de U$ 700 mil dólares dos clientes da empresa em que ela trabalhava, o escritório de advocacia de Armstrong Willian.

Se condenada, pode pegar até 20 anos de prisão. Patrícia é jornalista, casada com cidadão norte-americano e mora na cidade há cinco anos.

O FBI pede ajuda para quem souber a localização da brasileira. “Se algum membro do público tiver informações sobre o paradeiro de Lélis Bolin, é encorajado a entrar em contato com o FBI no Escritório de Campo de Washington ou na linha direta do FBI”, alerta a polícia, em comunicado. A história tem início em 2019, quando ela começou a trabalhar em escritório de lobbies governamentais e direito migratório na capital americana.

Os clientes fazem parte do seleto grupo de pessoas que podem desembolsar um milhão de dólares por um visto empresarial. Uma das provas em mãos do FBI é um contrato de honorários legais a uma pessoa (o processo não cita o nome), para obter ajuda na aquisição de vistos para os pais de um cliente. “A vítima fez dois pagamentos iniciais totalizando mais de US$ 135.000. No entanto, o dinheiro da vítima foi parar na conta bancária pessoal de Lélis Bolin”, diz a polícia.

Influencer diz ter namorado Eduardo Bolsonaro antes de acusá-lo de ameaças (Crédito:Divulgação)

Patrícia tem um histórico de militância política controversa. Nasceu e foi criada em Brasília. Filha de uma família cristã, ela parece ter predileção por confusão.

Ganhou notoriedade em 2016, após ter acusado o pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PL-SP) de estupro. Dois anos depois, a justiça arquivou o processo por falta de provas.

Ela também denunciou Talma Bauer, chefe de gabinete do político, por mantê-la em cárcere privado e, supostamente, tê-la obrigado a publicar vídeos negando as acusações contra o pastor. A queixa contra Talma Bauer correu no âmbito da Polícia Civil de São Paulo. Patrícia acabou indiciada por denunciação caluniosa e extorsão.

Em outra denúncia, Patrícia acusou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de ameaçá-la após troca de ofensas públicas em 2017. Na época da acusação, ela trabalhava no PSC, e teve, segundo ela, “um casinho” com o deputado.

Ex-bolsonarista, depois da briga com os Bolsonaro, ela foi candidata a deputada federal por São Paulo pelo Pros, mas não conseguiu se eleger. Ela também já se declarou petista e foi expulsa do partido em 2021 sob acusações de transfobia.

Outro lado

Na tarde da quarta-feira, 17, enquanto era procurada pelo FBI, Patrícia falou com a ISTOÉ por mensagens de aplicativo. “É tudo muito estranho. Fui à justiça e denunciei um esquema milionário de corrupção e virei ré”, diz ela.

Nas redes sociais, para cerca de seus 900 mil seguidores, a influencer anunciou. “Estou em asilo político em outro país. Meu crime: peguei documentos de uns norte-americanos safados que me pediram para ser bode expiatório e meti o pé”, diz a mensagem. “Não roubei nada. Está tudo documentado. A única coisa que peguei foram cópias de documentos para me defender na Justiça”, afirma.

Ela estava no México, mas depois de ter entregue a localização em postagem no Twitter, diz ter ido para um “país da América Central”.

O advogado de Patrícia no Brasil, Talles Monteiro, diz que “nos EUA, assim como no Brasil, um réu é considerado inocente até que se prove a culpa em processo transitado em julgado. Ou seja, na fase de acusação, a presunção de inocência permanece”.

Sem qualquer formação jurídica, ela diz que foi atuar na parte dos negócios de lobbies internacionais do escritório — que nos EUA é legal. “Eles precisavam de uma pessoa que fosse fluente em espanhol e português. Como eu falo muito bem o espanhol, acabaram me contratando”, conta. “Durante meses, vi o que é corrupção de verdade lá nos EUA”, diz.

Em determinado momento, segundo ela, o interesse do escritório pelo lobby com países da América do Sul ganhou proporções gigantescas.

De acordo com sua declaração, ela resolveu se afastar e pediu demissão do emprego. “O governo dos EUA sabe onde estou, tenho usado meu celular, meus cartões de crédito e até encaminhei à Justiça americana minha condição de asilada”, comenta. “Eu sabia que uma hora isso ia acabar acontecendo. Roubei documentos, sim, para me defender, mas as outras acusações são inverídicas”, disse.