A diretora-executiva do Fundo Verde para o Clima, Mafalda Duarte, tem uma missão: canalizar o dinheiro da organização aos países vulneráveis que ainda não receberam um dólar sequer.

O Fundo Verde para o Clima (GCF, na sigla em inglês) é o principal fundo da ONU destinado a ajudar os países que sofrem as maiores consequências do aquecimento global a reduzir suas emissões e se adaptar a um mundo que esquenta cada vez mais.

Supõe-se que deva garantir uma divisão equitativa entre o financiamento para a redução de emissões e a adaptação aos impactos climáticos. Metade deste último montante deve ser destinado aos países particularmente vulneráveis.

No entanto, o fundo climático identificou 19 países vulneráveis ao clima que não receberam financiamento ou o receberam de forma muito limitada.

“Estamos apontando deliberadamente a estes países”, disse Duarte em entrevista recente com a AFP, ao fazer um balanço do seu primeiro ano a cargo e expondo suas ambições para o futuro.

– Ajustando o mecanismo –

Na lista dos países que não receberam financiamento do GCF estão Argélia, República Centro-africana, Chade, Iraque, Líbano, Moçambique, Papua-Nova Guiné e Sudão do Sul.

“Nosso objetivo é equiparar a organização de forma que se torne um sócio preferido para os mais vulneráveis… E que entregue os recursos lá onde são necessários”, disse a economista portuguesa especializada em desenvolvimento.

Também integra a lista a Somália, um país devastado pela guerra, que sofreu com grandes inundações no ano passado e ainda está se recuperando de sua pior seca em décadas.

O GCF prometeu investir mais de 100 milhões de dólares (R$ 552 milhões) no próximo ano para ajudar os países do leste da África a lançar investimentos e desenvolver projetos climáticos.

Estes incluem o financiamento para fornecer energia solar fora da rede para comunidades rurais, aumentar a resiliência do setor agrícola e ajudar as instituições a terem acesso a mais financiamento no futuro.

“Precisamos ajustar nossos mecanismos para responder a reste tipo de países com uma capacidade institucional frágil”, disse, insistindo na necessidade de que projetos cheguem às populações isoladas apesar da insegurança.

– Superar a burocracia –

O GCF foi financiado pela primeira vez por países ricos há uma década, quando o fundo era um componente-chave do histórico acordo climático de Paris de 2015.

Ele canaliza subvenções e empréstimos para projetos principalmente na África, na região da Ásia-Pacífico, na América Latina e no Caribe.

Mas suas ambições foram dificultadas pela limitação dos recursos e uma burocracia complexa e prolongada, o que dificulta que alguns dos países mais vulneráveis do mundo tenham acesso a seu financiamento.

Simplificar este acesso e acelerar e ampliar os fundos que chegam às comunidades vulneráveis nesta década serão temas críticos na cúpula climática COP29 de novembro, no Azerbaijão.

Duarte espera triplicar até 2030 o capital do GCF para 50 bilhões de dólares (R$ 276 bilhões), uma meta ambiciosa, mas apenas uma fração dos trilhões que os especialistas dizem que são necessários.

– “Uma grande diferença” –

Duarte acredita que a capacidade do fundo de cumprir suas metas está na fortaleza de sua rede, que cresceu até englobar 250 parceiros, que implementam projetos no terreno, abrangendo agências da ONU, ministérios e agências governamentais, bancos de desenvolvimento, setor privado e ONGs.

Outros 200 expressaram interesse em trabalhar com o fundo.

“Se somos capazes de trabalhar com esta ampla rede de parceiros… Que estão mais perto das realidades no terreno e mais de perto de onde os investimentos são realizados, podemos fazer uma grande diferença”, disse.

Até agosto de 2024, o Fundo já tem orçados 15 bilhões de dólares (R$ 82,8 bilhões) para 270 projetos.

Nos últimos 12 meses, o GCF aprovou cerca de US$ 790 milhões (R$ 4,36 bilhões) para os países mais pobres do mundo, quatro vezes mais em comparação com 2022.

Mas continua sendo uma gota no oceano para atender às suas necessidades.

Atualmente, os países doadores decidem quais contribuições fazem ao fundo.

Na COP29 se espera que os países estabeleçam uma nova meta de financiamento climático, embora as divisões sobre seu tamanho e alcance tenham frustrado as negociações.

À medida que as discussões entram em uma fase crítica, Duarte tem uma mensagem simples para os governos: “Sejam audaciosos”.

“Não temos o luxo de esperar”, acrescentou.

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