Nesse domingo 30 completa-se um ano do misterioso surgimento de manchas de petróleo no litoral do Nordeste do Brasil. Um ano, e até agora nenhuma explicação concreta foi dada pela Marinha, que se responsabilizou pelas investigações. Um ano, e ninguém sabe com certeza de onde vazou tanto petróleo, como surgiram tais manchas e, por qual motivo, às vezes elas ainda aparecem. O que sabemos é que a destruição do meio ambiente em quase toda a costa nordestina arrasou praias e arruinou a vida de pesqueiros. De onde veio o vazamento? Diante do mutismo e da negligência das autoridades oficiais, pesquisadores independentes, mesmo com pouco amparo e parco investimento do governo federal, precisaram entrar em cena para que alguma resposta seja ao menos delineada. O passo mais efetivo, até agora, foi dado pela Universidade Federal de Alagoas. Segundo os pesquisadores, o óleo encontrado nas praias brasileiras provavelmente veio de Camarões, mais especificamente do Golfo da Guiné, e é fruto de um vazamento que ocupou uma área de 433,22 quilômetros quadrados no continente africano. A pesquisa valeu-se de análises a partir de satélites que registraram as primeiras imagens das manchas no Brasil. “O padrão de repetição indica vazamentos constantes”, diz o pesquisador Humberto Barbosa. Ainda há questões em aberto, mas pela primeira vez nos aproximando de uma conclusão. O silêncio do governo, é claro, continua o mesmo.

433,22 quilômetros quadrados é a área do vazamento de petróleo no Golfo da Guiné que originou as manchas no litoral do Nordeste brasileiro

Leia no fim desta coluna nota enviada pela Marinha

Sociedade
Salva pela boia de unicórnio

Uma menina de quatro anos foi resgatada depois de ficar à deriva no mar em uma boia infantil no formato de unicórnio. O caso aconteceu na Grécia, mais precisamente na praia Antirrio. A criança foi encontrada a cerca de quinhentos metros da costa após ser levada pela correnteza no Golfo de Corinto. Uma balsa a localizou por acaso e, felizmente, a garotinha estava sem ferimentos. “Coloquei a balsa em uma posição que não criasse ondas e afetasse a boia, porque, se ela virasse, teríamos sérios problemas”, disse o capitão Grigoris Karnesis, responsável pelo resgate.

CULTURA
Viagem ao interior das luzes

1958 Professor Antonio Candido (à esq.) operando uma filmadora: plenitude intelectual na Faculdade de Letras de Assis (Crédito:Divulgação)

Excelentes livros pedem para ser comprados em duplicata — em um dos exemplares grifa-se trechos e registra-se anotações e reflexões nas laterais das páginas; o outro vai direto para a estante feito relíquia. Pois bem, “A Formação de Antonio Candido, uma biografia ilustrada” (editora Ouro sobre Azul) é um excelente livro: então, um a gente lê, o outro a gente guarda novinho. Antonio Candido de Melllo e Souza, falecido em 2017, segue sendo um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros nas áreas da sociologia e da literatura. A obra, com 311 páginas e cerca de 300 fotos, foi escrita por Ana Luisa Escorel, filha de Candido e de sua esposa, a ensaísta Gilda de Mello e Franco.

Feito por uma parente, erra quem imaginar que o trabalho teria apenas interesse familiar. Nada disso. Trata-se de uma detalhada sociologia, na qual, por meio de elegantes e precisas palavras, descortina-se décadas do cotidiano da cidade mineira de Cassia, onde o “sorvete era aguado” segundo Candido, e local em que, ainda criança, ele já lia “A Tempestade”, de William Shakespeare, na versão francesa. Descobre-se também o Rio de Janeiro e suas chiques lojas de roupas, cinemas luxuosos e famosas sorveterias (onde o sundae não era aguado e vinha com três bolas de sorvetes); por fim, vem o universo intelectual na Universidade de São Paulo e no campus da cidade paulista de Assis. Nesse ponto surge grande novidade: “A Formação da Literatura Brasileira”, livro definitivo, nasceu sob encomenda em 1945 e era para ser feito em três anos. Antonio Candido, com seu metódico e inigualável rigor intelectual, levou mais de uma década. Publicou-o em 1959. Se hoje temos uma literatura no Brasil é porque tivemos Antonio Candido e essa sua obra. E que bom que temos agora a biografia escrita por Ana Luisa para saber de tudo isso.

SAÚDE
Mais uma dificuldade contra a Covid-19

Divulgação

Infelizmente, veio na semana passada a confirmação definitiva pela Universidade de Hong Kong, após análise clínica, epidemiológica e genética de um paciente: há reinfecção pelo novo coronavírus. Como ele sofre mutações, pode contaminar uma pessoa, já infectada e curada, com outras de suas linhagens. O caso envolve um homem de 33 anos. Há outros episódios similares na Holanda, Bélgica e Brasil: uma auxiliar de enfermagem, na cidade paulista de Ribeirão Preto (em São Paulo há mais casos). Isso coloca em xeque pontos vitais de uma futura vacina, única esperança de combate eficaz à Covid-19. Como o coronavírus não é sazonal (mais imprevisível que o H1N1 da gripe, por exemplo), uma vacina nos protegeria durante quanto tempo? A auxiliar de enfermagem se reinfectou em 50 dias, o paciente em Hong Kong, após quatro meses.

Comportamento
Os milhões de uma celebridade religiosa

Divulgação

Comprar imóveis de luxo com dinheiro de fiéis. É isso que investiga o Ministério Público de Goiás depois de suspeitas ligadas a uma enorme movimentação de dinheiro em contas da Associação Filhos do Pai Eterno, do popular padre Robson de Oliveira Pereira (foto). De acordo com o que apurou o MP, Robson é suspeito de ter movimentado R$ 120 milhões — que teriam sido doados por seguidores.

 

NOTA À IMPRENSA

A Marinha do Brasil (MB) reitera que o crime ambiental que afetou a costa do Nordeste e Sudeste, é inédito e sem precedentes na nossa história, por ter ocorrido a cerca de 700 km da costa, sem que o responsável tenha se apresentado voluntariamente e, também, prestado apoio para conter o derramamento de óleo. Com relação ao crime ambiental, a MB esclarece os pontos a seguir:

Investigação

A MB conduz, de forma ininterrupta, desde o aparecimento dos primeiros vestígios de óleo nas praias, uma investigação complexa, contando com a participação de diversas instituições, técnicas, científicas e especializadas, brasileiras e estrangeiras e tem trabalhado de forma cooperativa com o inquérito criminal instaurado pela Polícia Federal.

As áreas de conhecimento envolvidas abrangem:

• a química do petróleo para verificação das alterações de suas características em contato com a água do mar;

• a modelagem numérica para dispersão progressiva e regressiva de hidrocarbonetos em meio hídrico;

• a oceanografia no que tange ao levantamento de correntes em diferentes profundidades;

• a meteorologia para análise das frentes e ventos reinantes na área de investigação;

• a estatística para estudo das probabilidades da dispersão de óleo para cada navio suspeito em comparação à efetiva distribuição de óleo em nosso litoral; e

• a criminalística para levantamento das ações de enquadramento do navio poluidor.

Esse complexo processo investigativo considera, desde seu início, todas as hipóteses, à luz de critérios racionais e científicos, e converge para a solução. Nesse sentido, várias ações foram feitas na evolução dessa investigação pela Marinha do Brasil (MB) em coordenação com a Polícia Federal (PF).

Com base em todo esse trabalho científico, a MB entregou relatório com conclusões à PF, o que contribui para a identificação do provável causador e a origem do crime ambiental. Os trabalhos permanecerão até que o responsável seja identificado. É importante destacar que a MB e a PF trabalham juntas, e a PF vai consolidar essas informações para o desdobramento da investigação.

Ensinamentos Obtidos

O derramamento de óleo ocorrido ano passado traz ensinamentos para evitar que tal crime ambiental volte a acontecer. Dessa forma, há necessidade premente de investir no aprimoramento do monitoramento dos navios que transitam nas águas jurisdicionais brasileiras e nas suas proximidades, especificamente o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), com a melhoria de sistemas de apoio à decisão e a aquisição/instalação de radares de médio/longo alcance. O Sis-GAAz é um Programa estratégico da MB e, como reconhecimento de sua importância, foi incorporado ao Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), órgão da estrutura do Ministério da Defesa.

A MB está atuando junto a organismos internacionais para aperfeiçoar dispositivos e normas jurídicas, notadamente a Carta das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL). No âmbito nacional, alterações nas Normas da Autoridade Marítima (NORMAM) foram efetuadas, como as de “Embarcações Empregadas na Navegação em Mar Aberto” e do “Tráfego e da Permanência das Embarcações nas Águas sob Jurisdição Nacional”, tornando obrigatório que não somente os navios nacionais, mas também os estrangeiros, em trânsito, operação e permanência na Amazônia Azul e na Área de Busca e Salvamento Marítimo (Área SAR) brasileira, operem continuamente os seus equipamentos de identificação automática.