O presidente Michel Temer está a menos de uma semana de obter o maior êxito político de seu governo até o momento: eleger dois aliados na presidência do Senado e da Câmara. Dobradinha que seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não conseguiram fazer durante treze anos no poder. A cadeira permite ao seu ocupante a rara possibilidade de negociar e dar cartas nos rumos políticos do País. A eleição à presidência da Câmara e Senado representa a aquisição de um poder político instantâneo, de benesses incontáveis e a prerrogativa de administrar um orçamento bilionário. Também é relevante o poder de articulação que os presidentes das Casas dispõem. Por exemplo, os eleitos ganham automaticamente o direito a dar a palavra final sobre a pauta de votações. Podem até, se quiser, colocar em discussão eventuais pedidos de impeachment.

Em 2015, todos sabem, a eleição de Eduardo Cunha (PMDB) deixou Dilma em maus bocados. Culminou na admissibilidade para o julgamento da perda do cargo, um ano depois. O peemedebista concorria com o petista Arlindo Chinaglia (SP). Cunha obteve vitória expressiva. Logo rompeu com o governo, instalou de cara a CPI do BNDES e autorizou a dos Fundos de Pensão. Aliás, as maiores perdas petistas surgiram justamente na Câmara dos Deputados. Em 2005, o ex-presidente Lula também saboreou o gosto da derrota com a eleição do inexpressivo Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando do Parlamento. Penou para reassumir o controle da Câmara. Hoje sabe-se a que custo.

Apesar de o presidente Michel Temer não querer sua digital em qualquer uma das três candidaturas ao comando da Câmara– Rodrigo Maia (DEM), Jovair Arantes (PTB) e Rogério Rosso (PSD) – (além deles, também disputa o cargo André Figueiredo do PDT) -, o Planalto tem atuado nos bastidores pela recondução do atual presidente Rodrigo Maia. Uma das articulações decisivas para que Maia reinasse soberano na disputa foi patrocinada pelo governo. O Planalto agiu para que partidos da base do governo não lançassem candidatos. A partir daí, o caminho ficou livre para o Democrata.

A candidatura de Maia é considerada ideal para o governo. Alinhado pessoalmente com Temer, o parlamentar fluminense nunca foi afeito a traições. Ideologicamente, reza na cartilha do Planalto, ao apoiar as reformas que hoje compõem a pauta governista. Só uma hecatombe política poderá levar o Democrata a uma improvável derrota. Além de contar com o apoio do Palácio do Planalto, Rodrigo Maia também reúne em torno de si parlamentares de várias colorações partidárias. Até mesmo, integrantes do partido de um de seus adversários na corrida à Presidência da Câmara, Rogério Rosso (PSD-DF). A legenda do deputado por Brasília oficializou apoio ao Democrata na última terça-feira 24, praticamente eliminando ele do pleito. Com Rogério Rosso fora do páreo, resta apenas Jovair Arantes (PTB-GO) como postulante ao cargo, além de Maia. Nada que o faça perder o favoritismo.

Retomada

Um antigo rival da época do impeachment de Dilma é Maia desde criancinha: o PT. A maior bancada da oposição já demonstrou para qual lado vai pender. Com o temor de ficar novamente alijado da Mesa Diretora, como ocorreu nos últimos dois anos, a Executiva petista liberou sua bancada para votar como bem entender. Oficialmente, o partido não apoiará ninguém. Apenas oficialmente. Intramuros, já está tudo certo: o voto será de Maia. No Senado Federal, a eleição converge para o nome de Eunício Oliveira (PMDB-CE). Além do apoio do atual presidente Renan Calheiros, o seu maior cabo eleitoral, Eunício tem ainda a garantia do voto de senadores da oposição. Como Maia, o peemedebista também conseguiu atrair o voto dos petistas.

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Em meio à crise legada pela irresponsabilidade fiscal petista, o presidente Michel Temer conta com o Congresso para o seu projeto de retomada econômica. Pelo andar da carruagem, ou melhor, das eleições marcadas para o início de fevereiro, o caminho será cimentado.


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