Internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com insuficiência cardíaca, Faustão, de 73 anos, teve piora em seu quadro clínico e precisará ser submetido a um transplante de coração, segundo o boletim médico divulgado no domingo, 20. Com isso, o apresentador entrou para a fila organizada pelo SUS, que no Brasil conta atualmente com 386 pessoas a espera desse mesmo órgão, segundo a Central Nacional de Transplantes (CNT), do Sistema Nacional de Transplantes (STN).

“A fila de pacientes aguardando transplantes no Brasil é única, regulada pelo STN. Todos os pacientes, provenientes de serviços públicos ou privados, ingressam em uma mesma fila”, informa Ana Luiza Ferreira Sales, coordenadora do Programa de Transplante Cardíaco do Hospital Pró-Cardíaco e Hupe (UERJ) e médica cardiologista do Programa de Transplante Cardíaco e Insuficiência Cardíaca do Instituto Nacional de Cardiologia (InC).

A classe social do apresentador não faz diferença nessa situação. No entanto, Faustão pode ter prioridade na fila de transplante por outros fatores que vão além da idade. Segundo o boletim médico, ele “está em diálise e necessitando de medicamentos para ajudar na força de bombeamento do coração”, fatores considerados emergenciais. 

“O tempo de permanência em fila para transplante cardíaco é bastante variável. Pacientes mais graves, internados por instabilidade e necessitando de drogas venosas ou ‘corações artificiais’ para manter a vida têm prioridade na fila nacional”, explica a cardiologista. 

Samuel Steffen, cirurgião cardiovascular da Rede D’Or São Luiz, complementa que o tempo na fila também depende das compatibilidade entre doador e paciente, como tipo sanguíneo, peso, altura e HLA (anticorpos). “A fila do SUS é única, é auditada, é pública. Funciona extremamente bem e é muito organizada, embora seja muitas vezes dramática, porque são pacientes que têm duas opções para sair: ou transplanta, ou falece antes do órgão chegar”, pontua.

Vale destacar que cada órgão tem filas e critérios específicos para espera. Para atender as demandas com mais agilidade, os especialistas incentivam à doação de órgãos, cultura pouco popular no Brasil.

Como funciona o transplante de coração

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O transplante de coração é a opção terapêutica padrão ouro para o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca avançada, que evoluem com sintomas persistentes de dispneia (cansaço), edema (inchaço) ou baixo débito cardíaco (coração mais fraco), mesmo em uso de tratamento medicamentoso otimizado e medidas não-farmacológicas, segundo Ana Luiza.

O procedimento cirúrgico é considerado complexo. A captação do coração doado e o implante do enxerto no receptor devem simultaneamente. “Essas duas cirurgias têm que ser muito coordenadas e a logística muito bem ‘amarrada’, para conseguir fazer no menor tempo possível. O coração, uma vez que foi captado, precisa voltar a bater num prazo de quatro horas no máximo”, detalha Samuel.

Para vigilância das funções vitais, observação quanto aos processos infecciosos, reavaliação da função do enxerto (vigilância de rejeição) e ajuste de drogas imunossupressoras (para evitar rejeição), os pacientes tendem a ficar até sete dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após a cirurgia. Em alguns casos, para controle de eventuais complicações pós-transplante, é preciso prologar o período de internação. 

A saúde após o transplante de coração

Pacientes transplantados podem ter qualidade de vida e praticar atividades comuns, inclusive exercícios físicos. Para isso é indispensável o acompanhamento regular com um cardiologista. “Assim, a equipe clínica estará vigilante quanto a presença ou risco de infecções e sinais ou sintomas de rejeição. Os medicamentos imunossupressores (para evitar rejeição) são iniciados no momento do transplante e serão mantidos por toda a vida do receptor”, pondera a coordenadora do programa de transplante cardíaco do Hospital Pró-Cardíaco e Hupe (UERJ).

Por fim, Ana Luiza destaca que por todas essas particularidades, o transplante cardíaco deve ser valorizado como elemento fundamental na linha de cuidado da insuficiência cardíaca — quando tiver a devida indicação.