O mercado tem apresentado forte instabilidade nos últimos meses. Instabilidade que tem razões externas, mas que também decorre de incertezas no ambiente interno relacionadas às questões fiscais e eleitorais. No front externo, uma das preocupações continua sendo a China. A expectativa de crescimento do país, que estava rodando pouco acima dos 6%, agora está levemente acima dos 5%. O problema da incorporadora Evergrande também aguarda solução. A dívida americana, a crise energética na Europa e na Ásia e o início do ciclo de alta de juros por parte de alguns bancos centrais reforçam o cenário de incertezas.

Do lado interno, uma das maiores incertezas é com relação ao quadro fiscal. A resolução da questão dos precatórios é importante para ajudar a compor uma solução para o Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família. Parte da solução para implementar o Auxílio Brasil passa pela aprovação da Reforma do Imposto de Renda no Senado. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo precisa identificar a fonte de um gasto permanente. Nesse caso, seria a taxação de IR para lucros e dividendos.

A pressão política pela prorrogação do auxílio emergencial, que acaba agora em outubro, é outro fator de incerteza no lado fiscal

A pressão política pela prorrogação do auxílio emergencial é outro fator de incerteza no lado fiscal. O benefício tem sido prorrogado sucessivas vezes e o questionamento é se o governo conseguiria, caso prorrogado até o próximo ano, ter condições políticas de suspender o pagamento em pleno ano eleitoral. Também estão sendo discutidos no Congresso diversos temas com impacto fiscal, vistos pelo mercado como medidas populistas. Por exemplo, a criação do Vale-gás, a prorrogação de incentivos fiscais de ICMS, a prorrogação da desoneração da folha de pagamento, entre outros. O teto de gastos, aprovado na gestão do ex-presidente Michel Temer, tem sido uma âncora fiscal relevante. A pressão por aumento de gastos e por “soluções criativas” para determinados problemas tem gerado dúvidas sobre possíveis flexibilizações por parte do Congresso.

A questão sucessória tem agregado um nível de imprevisibilidade importante ao mercado. O ex-presidente Lula (PT), tem defendido ajustes no teto e se posicionado contra a Reforma Administrativa. Há preocupações ainda sobre seu compromisso com a manutenção de determinados avanços obtidos nos últimos anos, como a Reforma Trabalhista e a lei que instituiu a autonomia do Banco Central.Provavelmente teremos um 2022 com altíssima volatilidade no mercado. As incertezas externas tendem a continuar e a disputa sucessória trará mais dúvidas aos agentes econômicos.