A afável senegalesa Fatma Samoura surpreendeu muita gente em maio de 2016 quando foi nomeada por Gianni Infantino como número 2 da Fifa. Mas, três anos depois, o trabalho diário desta mulher de caráter parece entorpecido precisamente pelo homem que a contratou.

Por que ela? A designação para o cargo de secretária-geral desta senegalesa de 52 anos oriunda da ONU -pela qual passou 21 anos trabalhando pela África-, mas sem qualquer experiência prévia no esporte, foi feita de improviso durante um congresso da Fifa no México.

Para sua contratação, Infantino “acelerou o processo que ele mesmo havia anunciado”, conta uma fonte próxima.

De acordo com relatos concordantes, Infantino e Samoura se conheceram na África por iniciativa do malgaxe Ahmad Ahmad, hoje presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), durante uma visita de Infantino, que logo iniciou campanha à presidência da Fifa.

“Se tem algo que não podemos criticar é que ela tem caráter”, garante um bom conhecedor da Fifa sobre Samoura, mãe de três filhos.

– Mulher “de caráter” –

Samoura tem a importante missão de suceder no cargo de secretária-geral o francês Jérôme Valcke, suspenso por 10 anos por tráfico de ingressos.

“Sua chegada foi vista como uma boa surpresa, já que, pela primeira vez, não era um personagem da elite”, explica outra fonte. “Contrariamente aos pesos pesados da Fifa, ela não vive numa bolha paranóica”.

Esta mesma fonte, porém, questiona se “tanto interna como externamente sua designação foi uma jogada de relações públicas de Infantino”.

Em público, o presidente da Fifa insistiu na “experiência e visão internacionais” de Samoura, justificando sua nomeação pela necessidade da entidade de “se abrir a novas perspectivas, fora das reservas tradicionais”.

Mas, das portas para dentro, Samoura se deu conta rapidamente desde os primeiros dias que seu trabalho, que consiste especialmente em gerir a administração da Fifa, não será fácil, já que Infantino se rodeia em todos os cargos de uma espécie de círculo íntimo.

“Seu perímetro é limitado, porque a impedem de trabalhar. O problema é que o presidente se envolve em casos que ela poderia trazer um algo mais”, explica uma fonte.

Assim, Samoura é escoltada por dois secretários-gerais adjuntos, o escocês Alasdair Bell, oriundo da Uefa, e a ex-estrela do Milan Zvonimir Boban, encarregado dos assuntos esportivos.

Qual é o balanço após 4 anos? “Muitos africanos se orgulham de ver uma das suas ocupando este cargo”, garante um especialista de futebol africano.

“Desde o ponto de vista simbólico, por ser mulher há um impacto indiscutível”, completa a mesma fonte, que explica que Samoura “teve um papel importante” na escolha de Ahmad Ahmad para a presidência da CAF.

– Futebol feminino “custa” –

Sabendo que o apoio das 56 federações africanas é fundamental na reeleição à presidência da Fifa, Samoura segue mantendo “uma relação particular e até próxima com Ahmad”, embora a reputação do malgaxe vem sofrendo com as contínuas acusações de má gestão na CAF.

O desenvolvimento do futebol feminino é uma das missões da senegalesa. “Hoje, o futebol masculino paga e o feminino custa. O futebol feminino deveria pagar e pagará”, repete constantemente a dirigente.

“Tenho apenas um arrependimento: que os dirigentes não percebam essa fonte que está na frente deles e que está pedindo para ser explorada”, insiste.

De fato, a Fifa designou uma responsável para o futebol feminino, a samoana Sarai Bareman, que substituiu a muito eficiente e querida suíça Tatjana Haenni, “mas que passava muito tempo dando a volta ao mundo para apresentar o troféu”, se surpreende uma fonte próxima à situação.

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