O governo da Colômbia conseguiu um novo acordo com as Farc, mas selar a paz com a guerrilha mais antiga da América Latina ainda precisa da aprovação da oposição.

Além disso, falta responder às dúvidas da população que imperavam neste domingo (13): como esse acordo será referendado e implementado.

Firmado no sábado (12) pelos chefes negociadores de ambos os lados em Havana, o pacto inclui parte dos questionamentos, detalhes e contribuições de diversos setores que se opuseram ao acordo original, alcançado em 26 de setembro, mas derrotado nas urnas em 2 de outubro.

“Com toda humildade, quero reconhecer que este novo acordo é um acordo melhor”, declarou o presidente Juan Manuel Santos, em pronunciamento transmitido no sábado à noite pela televisão.

Em conversa com a AFP, o diretor do Centro de Análises de Conflicto Cerac, Jorge Restrepo, concordou que se trata de uma versão melhorada, porque “preserva a Constituição, ao eliminar inovações jurídicas desnecessárias, que buscavam dar garantias às Farc”.

Segundo ele, o pacto “entrega a vários grupos do ‘não’ avanços que protegem seus interesses”, sobretudo, em temas de segurança jurídica para quem pode ter envolvimento com alguns crimes – como militares e empresários -, ou alívio para setores religiosos que temiam a presença de ideologias de gênero no texto.

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Nem Santos nem os negociadores em Havana apresentaram detalhes sobre como será o processo de referendo do novo acordo.

No momento, o presidente colombiano ordenou ao chefe negociador Humberto de la Calle que comece a se reunir com os líderes do “não” para lhes explicar os pormenores das modificações.

Espera-se que a “versão integrada” do acordo esteja disponível em breve para que todos os colombianos possam lê-la.

A outra grande dúvida que surge sobre o futuro do processo é se os opositores, depois de conhecer o teor do novo acordo, irão apoiá-lo, fazer observações, ou rejeitá-lo definitivamente. Esta última opção implicaria uma enorme incerteza sobre sua implementação.

O mais ferrenho opositor ao processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o ex-presidente Álvaro Uribe, solicitou que os porta-vozes da oposição possam estudar o novo texto e que o acordo “não tenha alcance definitivo” até que sua revisão seja concluída.

“Muitos do ‘não’ se somarão ao novo acordo”, e apenas “uma minoria radical” se pronunciará contra, por considerar que vários dos aspectos-chave do acordo se mantêm, vaticinou Restrepo.

Uma das principais críticas sofridas pelo pacto original foi dar às lideranças do grupo armado a possibilidade de participar da política. Esse ponto permanece na nova versão.

Santos pediu aos colombianos que entendam que o objetivo dos processos de paz “é, justamente, que os guerrilheiros baixem as armas e que possam fazer política dentro da legalidade”.

Embora a mesa de diálogo tenha tratado da limitação de sua participação política, Santos admitiu que “não se conseguiu avançar” nesse tema.

Segundo o presidente, as Farc “terão de participar das eleições” com as mesmas condições que os demais movimentos políticos.

Apoio e esperança


Ao mesmo tempo em que os defensores do “não” colocaram suas dúvidas e pediram tempo para estudar o acordo, a notícia da nova versão foi muito bem recebida por outros setores.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, destacaram os esforços dos envolvidos para incorporar ao acordo as observações dos partidários do “não”.

“Por meio desses exercício, os colombianos se ouviram e reafirmaram seu desejo coletivo de paz”, disse Ban em um comunicado.

Já Almagro garantiu que governo e Farc “conseguiram contornar as complexidades, debateram em torno das diferentes propostas do ‘não’ e encontraram pontos de consenso”.

Por intermédio de seu secretário de Estado, John Kerry, o governo dos Estados Unidos felicitou os negociadores, os partidários do “não” e outros setores da sociedade por ter apoiado “um diálogo nacional respeitoso e de grande alcance após o referendo”.

A alta representante da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, indicou que o acordo “constitui uma boa notícia”. Ela disse esperar se reunir com Santos em 12 de dezembro para a assinatura do Fundo Europeu para a Paz na Colômbia, que apoiará projetos durante o pós-conflito.

Hoje, dezenas de colombianos saíram às ruas da histórica praça de Bolívar, em Bogotá, para comemorar a notícia aos gritos de “Sim, nós conseguimos!”.


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