Peter Jackson é uma grife cinematográfica. Quando o seu nome surge nos créditos, a plateia já sabe o que esperar: sagas fantásticas em cenários de tirar o fôlego e muitos efeitos especiais. O mesmo não se aplica aos filmes que ele apenas produz, como “Máquinas Mortais”, drama pós-apocalíptico em cartaz no Brasil que fracassou nas bilheterias dos EUA, arrecadando só US$ 15 milhões. Resta agora esperar pela nova aventura de Tintim, que Jackson dirigirá em breve, conforme contou à ISTOÉ nesta entrevista.

Como criou uma assinatura própria na indústria do cinema?
Até hoje não sei (risos). Só posso dizer que faço os filmes que gostaria de ver. Não é o mesmo que trabalhar em uma fábrica, onde você precisa entregar a mercadoria. Abordo o cinema como se eu ainda fosse criança, época em que fazia filmes com câmera Super 8 e modelava aviões. Sei que o cinema se tornou a minha profissão, mas ainda trato tudo como hobby. Se quiser parar de filmar, paro. Não há pressão.

Não existe pressão no sentido de ocupar a infraestrutura que você criou em Wellington, os estúdios Weta Workshop?
Quando nós criamos os estúdios, havia uma pressão no sentido de gerar sempre conteúdo para que todos os funcionários continuassem no emprego. Mas passamos dessa fase. Outras produções são realizadas aqui, como foram os casos de “O Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” (2017), de Ruper Sanders, e de “Avatar” (2009), de James Cameron, entre outros.

Como “Máquinas Mortais”, filme do estreante Christian Rivers que você produziu, se encaixa no seu universo cinematográfico?
Procuro histórias humanas. O coração de “Máquinas Mortais” não está no fato de as cidades terem rodas. Na trama, ambientada no futuro, quando a Terra foi devastada por guerra, cidades sobre rodas engolem povoados menores. É muito mais a história de uma mulher (a heroína Hester Shaw, vivida por Hera Hilmar) que não acredita mais no amor. Se você contar uma boa história romântica, o público ficará com você por duas horas.

FILME “Máquinas Mortais”, produzido por Jackson, consumiu mais de US$ 100 milhões, mas só arrecadou US$ 15 milhões nos EUA e US$ 73 milhões no total: fracasso

“Muitos filmes de fantasia foram feitos após ‘Senhor dos Anéis’.  Eu mesmo sou produto de tudo  o que eu vi ao longo da vida.”

Como encara a obsessão do mercado por franquias e sequências?
Fiz filmes que se tornaram franquias sem que tivessem sido concebidos assim, como o primeiro “Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (2001). Já no caso do primeiro “Hobbit”, em 2012, já sabíamos que ele integrava a franquia de J. R. R. Tolkien. Em “Máquinas Mortais” sabemos que há potencial para uma franquia, mas não criamos o filme com essa mentalidade. O fato é que esses livros, nos quais os filmes são baseados, vão ficando melhores na segunda, terceira ou quarta parte.

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Como avalia Hollywood no momento?
Hollywood não me entusiasma por estar tão concentrada nas franquias. De vez em quando, recebo propostas assim, mas recuso. Chegaram a um ponto na indústria em que os executivos entram em pânico quando lançam um filme original, com medo de que ninguém o veja, por não ser sequência ou franquia.

Como está o projeto sobre Tintim, que você deverá dirigir?
Tintim foi colocado na lista de espera quando comecei a filmar a franquia “Hobbit”. Tenho que encontrar o tempo para desenvolver esse projeto, o que vou fazer. Tenho, sim, um grande desejo de fazer mais um filme sobre Tintim (o anterior, “As Aventuras de Tintim”, de 2011, foi dirigido por Steven Spielberg e produzido por Jackson). Steven está esperando pacientemente por mim.

Vê a sua influência nas novas gerações? Muitos dizem que a série “Game of Thrones” não existiria sem “Senhor dos Anéis”…
(Risos). Não saberia dizer, já que nunca vi “Game of Thrones”. Talvez um dia, mas ainda não tive tempo. Possivelmente há uma influência. Muitos filmes de fantasia foram feitos após “Senhor dos Anéis”. Eu mesmo sou produto de tudo o que eu vi ao longo da vida. Em uma das cenas de “Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, a minha mente voltou aos ciclopes feitos pelo artista de efeitos visuais Ray Harryhausen (1920-2013) nos filmes de Simbad. A indústria do entretenimento é assim, com todo mundo trazendo as memórias de infância à vida profissional.

Você se sente como uma espécie de embaixador da Nova Zelândia, já que os filmes de “Senhor dos Anéis” e “Hobbit” deram um empurrãozinho ao turismo local, com visitantes chegando de todas as partes do mundo sempre à procura das locações?
É fantástico que isso aconteça. É uma forma de a nossa indústria de cinema devolver algo ao governo neozelandês, que nos concedeu incentivos. Como eles investiram bastante em cinema, agora nós podemos dizer que eles estão ganhando muito mais com turismo. Isso é sempre um bom argumento quando pedimos que os incentivos sejam mantidos.


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