Coluna: Matheus Baldi

Mineiro, Matheus Baldi é jornalista e apresentador, com passagens por UOL, SBT, Record e Band. Com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, já ultrapassou os 2 bilhões de visualizações em seus vídeos na internet. Diariamente, Matheus compartilha sua visão apurada e informações exclusivas sobre os bastidores do show business.

Famoso líder religioso vira alvo da internet por causa de prints e… de piano

Entre o palco da fé e os bastidores da fama, uma história que exige mais empatia do que julgamento

Famoso líder religioso vira alvo da internet por causa de prints e... de piano
Famoso líder religioso vira alvo da internet por causa de prints e... de piano Foto: Reprodução

Muito antes de artistas lotarem arenas ou influenciadores dominarem o feed das redes sociais, a sociedade já assistia a um tipo de espetáculo que misturava devoção, poder e carisma: o dos líderes religiosos. Desde a Antiguidade, figuras como sacerdotes egípcios, oráculos gregos e profetas hebreus mobilizavam multidões, influenciavam decisões políticas e inspiravam narrativas. Eram, na prática, os primeiros grandes protagonistas da vida pública — e, em muitos sentidos, as primeiras celebridades da história.

Esse protagonismo se intensificou com o surgimento da escrita e, mais tarde, com o avanço do rádio, da televisão e, hoje, da internet. Essa relação entre fé e fama ganhou contornos ainda mais complexos. Líderes religiosos passaram a ocupar espaços na cultura pop, gravar CDs, escrever best-sellers, vender milhões de ingressos para encontros e se tornaram, inevitavelmente, alvos de holofotes — e de julgamentos. Afinal, possuem todos os ingredientes que atraem a atenção da opinião pública: influência sobre milhões, presença constante na mídia e, sobretudo, as contradições humanas que tanto alimentam manchetes.

Nos últimos dias, um episódio envolvendo um famoso líder religioso brasileiro — alguém por quem tenho profunda admiração — reacendeu esse debate. Passei a receber mensagens com informações, fotos, mensagens, relatos e comentários. Também tomaram conta das redes sociais numa espécie de “exposed”, com tom de descoberta, que mistura fé e sexualidade — tema central que, aliás, eu mesmo comecei a abordar com mais profundidade nas minhas redes há mais de um ano.

Demorei a entender — e, principalmente, a ter coragem de verbalizar — que a minha orientação sexual nunca deveria ter interferido na minha relação com Deus. O amor de Jesus não é condicionado à heteronormatividade. Mesmo assim, até hoje, recebo ataques por defender essa verdade. E é por isso que este episódio recente com esse líder religioso me toca tanto: vejo pessoas pedindo publicamente para que ele se “assuma”, como se isso fosse uma dívida com a opinião pública. Mas sinto — e reconheço de longe — o tom da armadilha. Uma verdadeira arapuca. Infelizmente, entre muitos comentários que li, vejo que não se trata de empatia. Trata-se do prazer em dizer: “eu sabia”.

A internet se tornou, muitas vezes, um tribunal informal — onde julgamentos ganham palco antes mesmo que histórias sejam compreendidas. Como jornalista que há anos cobre o universo das celebridades, não escondo meu interesse pelos bastidores, pelas entrelinhas, pelas camadas que muitas vezes não estão nos holofotes. Mas foi justamente nesse ambiente, entre prazer e profissão, que aprendi uma das lições mais importantes da minha trajetória: só seria possível seguir essa caminhada se eu delimitasse com clareza o que é inegociável para mim — princípios e valores que protegem não só minha ética, mas minha humanidade.

Se há curiosidade sobre com quem viaja ou se toca ou não piano, isso é apenas detalhe. O que realmente importa, especialmente quando há admiração envolvida, é saber se essa pessoa está bem. Meu interesse mais profundo é que sua saúde mental esteja preservada, que sua liberdade interior seja respeitada e que sua existência — como já acontece — continue sendo fonte de inspiração para tanta gente. E torço, de verdade, para que ele, por exemplo, não precise se afastar de seu chamado ou interromper sua jornada para então poder ser verdadeiramente feliz. É doloroso perceber que, muitas vezes, a compreensão de muitos só chega depois da partida.

Ao longo de mais de uma década atuando no jornalismo de celebridades, aprendi que o silêncio de muitos não representa fuga. Representa força. Representa uma tentativa legítima de respirar, de se proteger, de reorganizar o próprio fôlego antes de seguir.

Falo sobre isso porque tenho revisto, com frequência, o propósito do meu trabalho. No fim do dia, sei que meu compromisso é com a construção de um mundo mais empático. Se puder contribuir para isso — ainda que em 0,0001% — já me dou por satisfeito.

Não dá mais para camuflar preconceito com a desculpa da curiosidade. Fé não se mede por orientação sexual. E humanidade não deve ser colocada em xeque por expectativas alheias. Se esse texto te provoca, ótimo. Que ele provoque mesmo. E que nos lembre de algo essencial: por trás de cada julgamento público, há uma pessoa real, tentando simplesmente existir. E isso, por si só, já merece respeito. Se é que existe algo ainda para acontecer, que seja no tempo certo — e do jeito que Deus conceder sabedoria para ser.