Com a soltura de balões brancos em homenagem às 242 pessoas que morreram no incêndio da boate Kiss, parentes e amigos das vítimas pediram justiça no décimo aniversário da tragédia que chocou o Brasil.

“Nós acreditamos que a justiça é didática e exemplar, sem ela não se aprende e não se dá exemplo de punição. (Precisamos dela) para que nunca mais se repita esta tragédia horrível”, disse à AFP Fátima de Oliveira Carvalho, de 69 anos, que vestia uma camisa branca estampada com a foto, durante a homenagem, realizada na sexta-feira (27).

Rafael Paulo Nunes de Carvalho, que hoje teria 42 anos, foi um dos mortos no incêndio iniciado na madrugada de 27 de janeiro de 2023 na boate Kiss, em Santa Maria (RS).

A tragédia começou quando um integrante do grupo musical “Gurizada Fandangueira” acendeu um artefato pirotécnico que incendiou o revestimento e transformou o lugar em uma armadilha mortal para os mil jovens que participavam de uma festa universitária.

A investigação oficial revelou que muitas vítimas morreram asfixiadas pela fumaça tóxica desprendida pelo material inflamável que revestia o teto da boate. O local não tinha extintores que funcionassem, contava com apenas duas portas dianteiras para evacuar a multidão e apresentava sinalização deficiente.

“Esta tragédia não é só uma tragédia de Santa Maria, é do Brasil e do mundo inteiro porque pode acontecer em qualquer momento. A falta de punição pode desencadear outras tragédias como essa”, afirmou Fátima.

O décimo aniversário do incêndio mortal ocorre cinco meses depois de a justiça liberar e anular as sentenças contra os quatro únicos condenados – dois integrantes do grupo musical e dois empresários.

Em agosto passado, uma corte do Rio Grande do Sul invalidou o júri popular que os condenou, fundamentando sua decisão jurídica em aspectos técnicos do julgamento, embora esteja prevista a formação de uma nova junta.

Foi “uma das noites mais tristes da nossa história, que deixou marcas irreparáveis e uma cidade que até hoje pede justiça. Minha solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Twitter.

Parentes e amigos lembram seus entes queridos mortos na tragédia desde a noite de quinta-feira, quando dezenas de pessoas caminharam até o local onde ficava a boate.

Ali, deixaram em uma parede buquês de flores e alguns colaram fotos de seus familiares e um cartaz branco com a frase “Resgatar a memória é reconstruir o futuro”.

“Às vezes me pergunto se é dolorido. Sim, é muito dolorido, mas a gente tem que vir justamente organizar essa luta. Não é vingança, é justiça”, disse na sexta Elizete Nunes Andreatta, professora de 59 anos.

Seu filho, Ariel Nunes Andreatta, que hoje teria 28 anos, morreu no incêndio, que também deixou centenas de feridos.