“Meu filho morreu por nada!”. A dor das famílias é a mesma treze anos após a guerra no Iraque lançada por Tony Blair, e sobre a qual um relatório divulgado nesta quarta-feira faz duras críticas.

“Agora eu vejo o que está acontecendo no Iraque na televisão, as 200 pessoas mortas no outro dia. Só posso concluir que, infelizmente, o meu filho morreu por nada”, lamenta Reg Keys, cujo filho Tom foi morto em 2003 no Iraque.

Juntamente com outros membros das famílias de soldados mortos no Iraque, no centro de conferências Queen Elizabeth II, no centro de Londres, Reg Keys reagiram ao relatório Chilcot, em homenagem ao presidente da comissão que conduziu a investigação por sete anos, e que critica firmemente o primeiro-ministro trabalhista da época Tony Blair.

Sarah O’Connor chamou Blair de “terrorista”, o único responsável pela morte de seu irmão em 2005: “Por que ele não está aqui para olhar na nossa cara? Se ele está tão convencido de sua decisão, porque não olha diretamente nos nossos olhos?”, questionou, indignada.

“Não devemos tolerar tais erros, vidas foram sacrificadas e um país destruído!”, afirmou Roger Bacon, cujo filho Matthew foi morto no Iraque em 2005.

“Graças a este relatório, poderemos assegurar que o fiasco iraquiano não volte a acontecer!”

O nome do ex-líder trabalhista, chamado diversas vezes de “Bliar”, jogo de palavras com “liar” (mentiroso), estava em todos os lábios e em quase todos os cartazes brandidos pela multidão reunida em frente ao centro, onde foram apresentadas as conclusões do relatório.

‘Tony Blair, que vergonha’

“Tony Blair é um assassino. Ele sabia o que estava fazendo. Mais de um milhão de pessoas morreram, e eles destruíram estradas e hospitais”, criticou Kim Sparrow, de 52 anos, enquanto que, atrás dele, a multidão gritava “Blair mentiu, milhares morreram”, “Tony Blair, que vergonha” e “Tony Blair, criminoso de guerra”.

“Eu estou com raiva. Tony Blair e aqueles que apoiaram a guerra devem ser levados à justiça. Somos um país civilizado e as pessoas devem ser responsabilizadas por suas ações”, disse um indignado John Loyd, de 70 anis, com uma placa “Justiça para o Iraque. Haia para Blair” amarrada no pescoço.

Os manifestantes, reunidos sob a convocação da coalizão Stop the War, esperam pouco do relatório Chilcot, que, no entanto, surpreendeu condenando a ação de Tony Blair, que tinha prometido ao presidente americano George W. Bush de o seguiria no Iraque “seja lá o que acontecer”.

“Eu gostaria de ver investigações sérias, mas na minha opinião o relatório Chilcot não vai levar a qualquer ação legal”, lamentou Alex Megane, de 27 anos.

“O stablishment será encoberto”, considerou Michael Culver, de 78 anos, pedindo um julgamento de “Nuremberg” – como aquele contra os criminosos de guerra nazistas – para as “autoridades britânicas” responsáveis pela invasão do Iraque.

Em um palanque, os ativistas se revezavam lendo os nomes de civis iraquianos e soldados britânicos mortos durante a invasão do Iraque. “Todos os britânicos eram jovens”, apontou um manifestante na tribuna.