Ghadir Hajji compareceu a uma clínica da Faixa de Gaza neste domingo (1º) com a esperança de que seus cinco filhos estivessem entre os primeiros a se vacinar contra a poliomielite, doença que ressurgiu no território palestino devastado pela guerra.

Gaza registrou seu primeiro caso de pólio em 25 anos em um bebê de dez meses em meados de agosto, um novo perigo no território bombardeado desde o ataque brutal do Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023.

“É absolutamente necessário que sejam vacinados”, declarou à AFP Ghadir Hajji, enquanto a família aguardava na fila de vacinação na clínica do campo de refugiados de Al Zawayda, no centro.

“Recebemos uma mensagem de texto do Ministério da Saúde e viemos em seguida”, explicou.

Assim como ela, milhares de gazenses compareceram para vacinar seus filhos apesar das preocupações por sua segurança pessoal e os rumores de que o imunizante não seria seguro nem efetivo.

O vírus da poliomielite é altamente contagioso e se propaga com frequência através de águas residuais e contaminadas, um problema crescente em Gaza onde grande parte da infraestrutura foi destruída pela guerra.

A doença afeta principalmente crianças menores de cinco anos, pode provocar deformidades e paralisia, e é potencialmente letal.

– Vacinar mais de 640 mil crianças –

Em uma clínica de Deir al Balah, no centro da Faixa, cerca de 2 mil crianças foram vacinadas neste domingo, indicou Louise Wateridge, porta-voz da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos.

A agência tem equipes móveis que vão de barraca em barraca para administrar duas gotas para cada criança, que constituem a primeira dose da vacina contra a pólio, antes de marcar com tinta um de seus dedos para certificar sua passagem.

As primeiras doses foram administradas no sábado para um número não especificado de crianças em Khan Yunis, no sul, antes da administração em grande escala deste domingo.

A campanha pretende vacinar mais de 640 mil crianças de menos de dez anos e a ONU já deixou entrar em Gaza 1,2 milhão de doses da vacina nOPV2.

O Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007, estabeleceu 67 centros de vacinação – principalmente hospitais, pequenos centros de saúde e escolas – no centro de Gaza, 59 no sul e 33 no norte.

A segunda dose deve ser administrada quatro semanas depois da primeira.

Se pelo menos 90% das crianças de Gaza receberem as doses, a propagação será interrompida, segundo a ONU.

Na quinta-feira, a ONU anunciou que Israel aceitou uma série de “pausas humanitárias” de três dias em áreas do norte, do sul e do centro da Faixa para facilitar a campanha de vacinação.

Contudo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu em que essas pausas não equivaliam a nenhum tipo de cessar-fogo na guerra entre o Hamas e o Exército israelense em Gaza.

– ‘Um dos dias mais felizes’ –

“Há muitos drones sobrevoando o centro da Faixa de Gaza e esperávamos que esta campanha de vacinação para as crianças fosse tranquila”, declarou neste domingo Yasser Shaaban, diretor-médico do hospital Al Awda.

Desde as 9h locais, começou a receber famílias ansiosas para vacinar seus filhos nos três pontos que gerencia.

Para Louise Wateridge, que registrou “milhares de crianças vacinadas” e “várias filas que chegam até os estacionamentos” dos hospitais, é “um dos dias mais felizes em Gaza desde o início da guerra”.

Mas “agora tememos o que vai acontecer depois da ‘pausa'” humanitária, declarou.

A guerra em Gaza, que mergulhou os 2,4 milhões de habitantes daquele território em uma situação humanitária catastrófica, eclodiu no dia 7 de outubro de 2023.

Naquele dia, milicianos islamistas do Hamas mataram 1.199 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.

Também sequestraram 251 pessoas, das quais 103 continuam cativas em Gaza, incluídas 33 que os militares israelenses declararam como mortas.

Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma vasta ofensiva de retaliação que já deixou 40.738 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território.

Basma al Bach, uma mãe palestina que se deslocou para vacinar seus filhos, contou neste domingo que estava “muito feliz”.

“Quero proteger meus filhos. Tinha medo que adoecessem e ficassem incapacitados”, afirmou.

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