Em algumas casas, mal esfriou a ceia de ano-novo e a mesa da sala já ganhou nova utilidade: virou suporte de planilhas e orçamentos para os gastos de material escolar. Considerada a 13.ª mensalidade de famílias com crianças em jovens em colégios particulares, os pais se desdobram para encaixar a despesa no fluxo de caixa e basta uma consulta rápida a grupos de WhatsApp de escolas para colher exemplos de como as famílias driblam o orçamento apertado para dar conta da obrigação sazonal.

De pais que chegam às 4 horas da manhã para garantir lugar na fila do bazar de livros usados da escola, até quem forme cooperativas de compras e ofereça-se como mão de obra em troca de permuta para os filhos, os casos apontam como, de uma maneira geral, a escola hoje mexe com as finanças de quem opta pela escola particular.

Em 2019, a expectativa é que o material escolar suba, em média, 1,02% frente o acumulado do ano passado, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). Os livros didáticos, também segundo a FGV, tiveram alta menor – de 0,5% nos preços frente a 2018.

Mas, inflação baixa não significa impacto mais suave no bolso dos pais. Para a especialista Graziela Suman, da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), quem não programar o gasto pode ter problemas com as contas de casa. “Como tudo, precisa colocar no papel e inserir no planejamento financeiro. É um gasto importante para as famílias”, recomenda.

Com um filho de 12 anos indo para a sétima série do ensino fundamental, a comerciante Adriana Dal Secco Cordeiro precisou madrugar para economizar na lista dos livros didáticos e paradidáticos. O orçamento inicial, com todos livros novos, girava em torno de R$ 1,8 mil.

Adriana chegou às 5 horas da manhã na fila do bazar de usados do colégio e conseguiu economizar R$ 1,3 mil. “Cheguei de madrugada e a fila já estava dobrando o quarteirão da escola. Mas, valeu a pena”, conta ela.

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Na avaliação do coordenador do curso de Gestão Financeira da Universidade Metodista de São Paulo, Klaus Suppion, exemplos como o de Adriana estão se espalhando pelo País, independente do poder aquisitivo das famílias. “As redes sociais ajudam bastante nesse sentido. Dá para reunir pais de alunos da mesma sala, outros familiares, do mesmo prédio. Mas a ideia é sempre comprar em atacado e, assim, conseguir preços mais baixos e algum desconto”, explica.

Entre suas dicas estão o contato direto com editoras de livros didáticos e a preferência por redes de lojas, que devido ao custo operacional menor também conseguem fazer mais promoções, afirma Suppion.

Dicas

Esperar a procura esfriar um pouco também é uma dica. Quem faz isso é administradora Ianarlene Pereida de Melo, com três filhos (15, 11 e 7 anos). “Eu espero as primeiras semanas de janeiro para comprar a lista e, quanto mais próximo possível do volta às aulas, mais barato eu percebo que o material fica nas lojas”, diz ela, que também não vai fisicamente às papelarias para evitar o “gatilho do consumo”, como chama as compras não planejadas que acontecem após ver e gostar de determinado produto. “Faço tudo pela internet. Orço em um monte de loja, coloco numa planilha e, só depois, vou comprando, cada coisa onde ela está mais barata”, diz.

O professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Joelson Sampaio, aconselha uma boa pesquisa de preços antes de sair de casa. “Quem quer economizar precisa fazer isso antes: fechar uma lista e comparar o preço final em diferentes lojas.”

Ele também aconselha as compras coletivas como saída para quem precisa economizar. “Isso demanda tempo e organização, mas desde que os pais consigam reunir o grupo, é uma ótima solução. Também é possível aliar isso com convênios firmados pelas próprias escolas com editoras e papelarias.”

A dona de casa Doraci Diniz, 50 anos, estimava gastar R$ 3 mil nos livros didáticos das três filhas neste ano. Mas, graças à feira de trocas do colégio em que estudam, foi possível economizar R$1.700. “Todo ano eu troco livros e uniforme. Minhas filhas estão na mesma escola há seis anos e somente no ano passado eu comprei camisetas novas pela primeira vez. De resto, sempre fui trocando tudo na feira, doando uma coisa e pegando outra”, conta.

Ela afirma que as filhas também estão acostumadas a reutilizar estojos, pastas e canetas. “Os gastos são grandes, mas não é apenas uma questão de economia. Minha escolha tem a ver com sustentabilidade também.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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