Parentes de desaparecidos marcharam na quarta-feira em memória a seus familiares e para exigir resultados nas buscas pelas mais de 110.000 vítimas deste crime no México, incluindo cinco jovens, cuja tortura e possível morte causou comoção ao serem registradas em imagens de vídeo.

Em silêncio e exibindo fotos de seus entes queridos, uma centena de pessoas caminhou pelas ruas do centro histórico de Lagos de Moreno (estado de Jalisco, oeste), onde foram sequestrados, em 11 de agosto, os jovens com idades entre 19 e 22 anos, em comemoração ao Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados.

“Isso transtornou nossas vidas. Ninguém merece isto, nem a pior pessoa do mundo”, disse à AFP Ana Martínez, irmã de um deles, Jaime Adolfo, um pedreiro e jogador de futebol amador de 21 anos, de quem se lembra como um “menino bom, com um grande coração”.

“Não são apenas cinco, são milhares de pessoas que continuam desaparecidas”, disse Maria Catalina Mireles, que procura a filha, Ana Elvira Castillo, há oito anos, quando pistoleiros a levaram de um posto de gasolina em Lagos de Moreno.

Desde então, a mulher se juntou a um grupo de mães que segue o rastro de seus filhos, inclusive fazendo escavações em locais controlados por narcotraficantes, principais responsáveis por estes crimes.

Também participaram da manifestação familiares de Dante, Diego, Roberto e Uriel, que assim como Jaime Adolfo eram amigos de infância e foram sequestrados e torturados por supostos pistoleiros de um cartel em um edifício rural de um subúrbio de Lagos de Moreno, segundo um vídeo transmitido nas redes sociais, que evidenciou a atrocidade dos desaparecimentos no México.

O Ministério Público de Jalisco investiga se restos ósseos encontrados em 22 de agosto em um sítio seriam dos cinco jovens.

Antes da marcha, as famílias dos desaparecidos celebraram uma missa em uma das igrejas monumentais deste município colonial de Jalisco, estado com mais desaparecidos no México (com quase 15.000 dos mais de 110.000 casos registrados), segundo números oficiais.

Manifestações similares ocorreram também na quarta em cidades como Tijuana (norte).

– Sem justiça –

Por ocasião do dia das vítimas de desaparecimento, a ONU urgiu os países afetados a “darem acesso efetivo à justiça” para as vítimas.

“Não temos o acompanhamento das autoridades, muito menos em Lagos, onde corremos risco ao sair para buscar nossos familiares”, denunciou Mireles, que também fez um apelo aos criminosos: “digam onde estão as valas, entreguem nossos filhos”.

De 2018 a 2023, foram localizados pelo menos 141 túmulos clandestinos em Jalisco.

Lagos de Moreno é considerado um local estratégico para as organizações do crime organizado, como o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG), ao se conectar com vários estados-chave no tráfico de drogas.

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