Preso há seis meses pelo crime de roubo, Joel Rodrigues do Nascimento Júnior, de 21 anos, já foi inclusive condenado em primeira instância a 5 anos e 4 meses de prisão. Para UOL, testemunhas alegam que o jovem apenas testemunhou dois ladrões abandonarem a moto em sua rua, na Zona Sul da capital paulista.

O jovem foi preso com base na versão apresentada por policial militar e no reconhecimento de Joel pelo dono da moto. No entanto, a defesa de Joel aponta que o reconhecimento dele foi ilegal.

Após ser detido pela polícia, moradores da rua em que o jovem reside se mobilizaram e escreveram dezenas de cartas para serem anexadas ao processo em defesa de Júnior, além de pedirem que outras testemunhas sejam ouvidas, as quais também presenciaram o crime.

Até o momento, apenas duas das cinco testemunhas arroladas pela defesa de Joel foram ouvidas pela juíza Maria Domitila Manssur, da 16ª Vara Criminal, no dia da audiência de instrução e julgamento de seu caso, em novembro do ano passado.

Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público ouviram somente o depoimento do PM e das vítimas para prender Joel. Além disso, nenhuma prova contra o garoto foi produzida.

A reportagem do UOL leu as mais de 300 páginas do processo e conversou com nove testemunhas e parentes de Joel e o advogado da vítima. Segundo afirmam, na noite de 18 de junho, Joel saiu de casa para pedir um ferro de passar roupa emprestado para sua prima e vizinha, a recepcionista Juliana de Oliveira, 38.

Ao conversar sobre o exame, o casal avistou dois jovens empurrando uma moto Tenere, 250 cilindradas, a qual foi roubada de um casal. A dupla abandonou a moto em determinado local e fugiu.

Outro ponto que levanta suspeita é que no boletim de ocorrência, no inquérito e na denúncia oferecida pelo Ministério Público não constam o local e o horário do roubo.

Um dos vizinhos de Joel relatam ainda que o jovem o avisou para não tocar na moto, a qual estava parada na porta da sua casa, por ser produto de roubo.

“A moto estava parada e me atrapalhava a entrar com a minha moto. O Joel não encostou, nem sentou na moto, como o policial disse. Ele foi parado pela PM quando já descia para a casa dele.” Weverton Lima Gomes, vizinho de Joel.

Versão baseada em testemunho de PM

O polícia militar Salvatore Riccetti, de 40 anos, foi a principal testemunha do caso. Sua versão constam tanto no B.O. quanto no processo.

De acordo com seu relato, ele chegou à rua na qual estava a moto e avistou Joel estacionando a moto em que na sequência o jovem desceu a rua na direção contrária dos policiais. Ao ser abordado pelos PMs, o jovem teria dito que tinha ciência de que a moto era roubada, mas negou a autoria do crime.

Apesar disso, Joel foi preso em flagrante pelo policial que alega ter somente ele e o jovem na rua no momento da prisão. Esta afirmação é desmentida por algumas testemunhas ouvidas pelo UOL.

“Eles jogaram a viatura em cima da gente e eu apertei a mão do Júnior [como a família chama Joel] e o PM gritou ‘encosta ladrãozinho sujo’. Eu falei que o Júnior não é ladrão e ele disse: ‘Cala a boca sua favelada barraqueira'”, disse Kauiny Pereira Nascimento, irmã de Joel.

No histórico do PM constam um ano de prisão pelo crime militar de desobedecer ordem superior. No processo, o MP pediu que o policial perdesse o cargo, mas o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, por maioria.

Outra prisão do PM ocorreu em 2013 por posse de armamento de uso restrito, no qual ele foi absolvido, conforme a Polícia Militar. Recentemente, Riccetti também respondeu a um processo e dois inquéritos por homicídios, ambos foram arquivados.