Familiares de vítimas de explosão se manifestam em Beirute

Familiares de vítimas de explosão se manifestam em Beirute

Os familiares das vítimas da explosão do porto de Beirute em 2020 organizaram uma manifestação nesta quinta-feira (26) para apoiar o juiz responsável pela investigação, processado por insubordinação por sua determinação em continuar investigando a tragédia.

O grupo de familiares das vítimas convocou a concentração na manhã de quinta-feira em frente ao Palácio da Justiça de Beirute “para apoiar a investigação” do juiz independente Tarek Bitar sobre a explosão de 4 de agosto de 2020, que deixou mais de 215 mortos e 6.500 feridos e arrasaram bairros inteiros da capital libanesa.

As autoridades mobilizaram forças de segurança nas proximidades do Palácio da Justiça, observou um correspondente da AFP.

Em um comunicado, os familiares denunciaram a decisão de processar o juiz Bitar como um “golpe de Estado político, de segurança e judicial”.

O grupo instou as autoridades a assumirem “total responsabilidade pela segurança do juiz”, que se sente ameaçado, em um país onde os assassinatos políticos são frequentes.

Na segunda-feira, o juiz Bitar decidiu retomar sua investigação, que estava suspensa há 13 meses devido à pressão de grande parte da classe política, incluindo o poderoso movimento armado Hezbollah.

O magistrado indiciou várias autoridades, como o procurador-geral Ghassan Oueidate e dois altos funcionários da segurança, por “potencial intenção de matar”, pela primeira vez na história do país.

Em retaliação, o procurador-geral decidiu processar o juiz Bitar por “rebelião contra a justiça” e “usurpação de poder”.

O juiz Bitar foi chamado para comparecer na quinta-feira às 10h locais (5h em Brasília), mas se recusou a comparecer, segundo uma autoridade judicial.

Esta pressão judicial ameaça encobrir a investigação da enorme explosão, causada porque centenas de toneladas de nitrato de amônio foram armazenadas sem precaução no porto de Beirute.

Várias ONGs e famílias de vítimas acusaram as autoridades libanesas de atrapalhar a investigação local para evitar processos.

Na quarta-feira, as ONGs Human Rights Watch (HRW) e Anistia Internacional instaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU a “adotar urgentemente uma resolução para lançar uma comissão de inquérito imparcial”.

“Está perfeitamente claro que as autoridades libanesas estão determinadas a obstruir a justiça”, disseram.