Familiares e representantes de parte dos 252 venezuelanos deportados pelos Estados Unidos para El Salvador pediram, nesta terça-feira (10), neste país centro-americano, que o governo de Nayib Bukele lhes permita vê-los na megaprisão onde estão detidos.
A tia de Widmer Agelvis Sanguino e uma amiga da família de Andry Hernández Romero chegaram na noite de segunda-feira a San Salvador, na primeira viagem de parentes dos venezuelanos desde que foram deportados em 15 de março, acusados pelos Estados Unidos de integrar a organização criminosa Tren de Aragua.
“Queremos que nos permitam uma visita, verificar como está seu estado de saúde e pedir uma pronta libertação”, afirmou à AFP Jhoanna Sanguino, tia de Agelvis, em um hotel de San Salvador.
Reina Cárdenas lamentou que Hernández Romero tenha sido preso, assim como os demais, segundo ela, por ter tatuagens. “Queremos que ele saiba que não está sozinho, (…) temos fé, as provas necessárias para demonstrar que é inocente”, declarou. “Estamos lutando por eles.”
As mulheres viajaram acompanhadas por Walter Márquez, presidente da Fundação El Amparo Internacional, uma ONG de direitos humanos que levanta a voz por uma dezena de deportados oriundos do estado de Táchira (oeste da Venezuela), e que assumiu formalmente a defesa legal de seis deles.
“Queremos exortar o presidente a que nos receba para apresentar toda a documentação que demonstra que devem ser postos em liberdade”, disse à AFP Márquez, após entregar um pedido de visita na Direção de Centros Penitenciários.
Aliado do presidente americano Donald Trump em sua política anti-imigração, Bukele recebeu em março vários aviões com 252 venezuelanos e mais de uma dezena de salvadorenhos acusados de serem membros da gangue Mara Salvatrucha (MS-13).
O governo de Trump, que pagará a El Salvador seis milhões de dólares para mantê-los encarcerados, não apresentou provas de suas acusações e os expulsou com base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, até então utilizada somente em tempos de guerra.
Hernández Romero, de 32 anos, que cruzou a perigosa selva panamenha de Darién em 2004 para chegar aos Estados Unidos, é estilista e ator de teatro, e tem tatuadas duas coroas com os nomes de seus pais.
Agelvis Sanguino, de 24, que tem tatuagens de um relógio, uma rosa e uma coruja, foi deportado apesar de ter ingressado de forma regular nos Estados Unidos como refugiado, explicou sua tia.
“Foi tudo por causa das tatuagens. É impressionante não saber nada sobre eles (…) Deixamos nossa vida pessoal de lado para pedir que se faça justiça. Tem sido muito difícil”, disse Jhoanna Sanguino.
Vários familiares dos venezuelanos os reconheceram nos vídeos divulgados por Bukele, onde aparecem de cabelo raspado e acorrentados no Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), a megaprisão construída para membros de gangues em Tecoluca, a 75 km de San Salvador.
“Queremos saber sua situação jurídica e exigir sua liberdade”, afirmou Márquez, que destacou que El Salvador não tem nenhuma jurisdição penal internacional para manter os venezuelanos detidos e que não existe sentença nos Estados Unidos contra eles.
“Não há nenhum que esteja no Tren de Aragua”, frisou Márquez.
Outro grupo de cerca de 30 venezuelanos está representado em El Salvador por um escritório de advocacia salvadorenho, contratado pelo governo da Venezuela. Os do grupo de Táchira são críticos do presidente Nicolás Maduro.
As autoridades não permitiram até agora que os advogados vissem os venezuelanos, que estão incomunicáveis, e não responderam a recursos de habeas corpus impetrados em seu favor, informou à AFP o advogado Salvador Ríos.
Organizações internacionais como a Anistia Internacional consideram que essas detenções violam o devido processo e desrespeitam as normas internacionais de direitos humanos.
Um dos salvadorenhos, Kilmar Ábrego García, cujo caso gerou um conflito entre o governo de Trump e a Justiça por ele ter sido deportado por um “erro”, foi devolvido na última sexta-feira aos Estados Unidos e ficou detido para ser processado por suposto tráfico de migrantes.
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