“Sempre estamos juntos. Quando ele entra no mar parece que eu estou surfando também”. É assim que Caia Souza, de 48 anos, define a sua relação com o filho Caio, de 22. Ambos surfistas, eles competiram no “quintal de casa” no Oi Hang Loose Pro Contest, disputado em Fernando de Noronha.

Caia conta que disputar um evento na Praia da Cacimba do Padre de nível 5 mil pontos no QS, a divisão de acesso do Circuito Mundial, é sempre umas das melhores atrações do local. Desta vez ainda mais especial, já realizou o sonho de ver o seu filho participar do mesmo campeonato.

Caia não esconde a emoção de ver Caio seguindo os mesmo passos no esporte. “Ele fica nervoso quando eu assobio muito para ele e fala: ‘É muito difícil ser o seu filho aqui'”, conta, rindo.

Quando Caio estava no palanque dos atletas, seu pai chegou para dar um beijo e desejar boa sorte. No momento em que ele estava pronto para entrar no mar, Caia procurou um lugar na areia para conseguir acompanhar a bateria e orientá-lo. O assobio é a principal conexão entre pai e filho. “Quando assobio e faço o sinal ele sabe que sou eu. Sempre falo qual é a melhor onda para ele pegar e para qual lado deve ir”, explica.

Enquanto a reportagem acompanhava a bateria de Caio, o pai ficava apreensivo com cada nota dos juízes. “Ele precisa ficar desse lado. O outro não está muito bom”, comentava, ansioso por um bom desempenho do rapaz.

“Quando você vê o seu próprio filho seguindo os seus passos você fica sem chão. Eu sou aquele torcedor que fica ainda mais nervoso”, diz Caia, que surfa desde os 9 anos e sustenta a família com a pesca e o turismo em Fernando de Noronha. Ele cobra a diária de R$ 300 para alugar um buggy e R$ 3 mil pelos passeios com lancha.

Caia e Caio treinam juntos. Quando questionado se é muito rígido como técnico, o pai conta que as suas preocupações não são relacionadas ao esporte. “Eu sou um pai rigoroso para ele não fazer besteiras na vida. Passei a minha vida inteira envolvido com esporte e nunca usei drogas. Essa é a minha maior preocupação. Dou conselhos para ele, proibi de ir em ‘noitadas’ até fazer 18 anos e hoje ele pode fazer o que ele quer, mas com cautela”, revela.

Ao terminar a sua bateria, Caio acabou ficando na terceira colocação e foi eliminado do torneio. Demonstrando apoio, seu pai elogiou as melhores manobras e abraçou o filho. “Você foi demais”, disse, empolgado e esperançoso para que os dois possam ter sucesso numa próxima oportunidade.

INSPIRAÇÃO – Para Caio, seu pai é motivo de inspiração e orgulho. “Desde pequeno eu sempre aprendi a cultura do surfe com a minha família. O meu pai que me ensinou a surfar e sempre me levava para os campeonatos”, conta.

Quando o pai entra na bateria, é Caio quem faz a função de assobiar e dar instruções. “Quando ele está competindo eu fico tentando fazer o mesmo que ele e quero ajudar, mas a experiência dele é maior e muitas vezes quando mando ir para um canto, acaba não me ouvindo. Mas ele sabe mais do que eu, né?”, explica.

O pai acabou repetindo o mesmo desempenho do filho no torneio e ficou em terceiro lugar na sua bateria. Apesar dos resultados, Caio diz que competir com o seu parceiro de vida foi uma ótima experiência. “Foi muito bom participar do mesmo evento que o meu pai. Fiquei muito feliz. Essa foi a primeira vez, mas ano que vem tem mais”, avisa o surfista.