As buscas pela brasileira Juliana Marins, de 26 anos, duraram quatro dias e ela foi encontrada sem vida nesta quarta-feira, 24. Agora a família da jovem acusou as equipes de resgate de negligência e pediu por justiça. A publicitária tropeçou e caiu de um penhasco na trilha do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, Indonésia, na madrugada de sábado, 21, no horário local — ainda sexta-feira, 20, no Brasil.
Por meio de uma publicação no Instagram, os familiares afirmaram que Juliana “sofreu uma grande negligência por parte da equipe de resgate. Se a equipe tivesse chegado até ela dentro do prazo estimado de 7h, Juliana ainda estaria viva”. A família diz que buscará seus direitos judicialmente.
Na manhã de terça-feira, 24, equipes de resgate conseguiram chegar até a jovem, que estava a cerca de 650 metros de profundidade do ponto que caiu, e constataram o seu falecimento. Em seguida, a informação foi confirmada pela família.
A brasileira fazia um ‘mochilão’ pela Ásia desde de fevereiro, passando por países como Vietnã, Filipinas e Tailândia, antes de seguir para a Indonésia, onde realizou o passeio turístico pelo vulcão.
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A trilha de acesso ao monte Rinjani é considerada uma das mais difíceis do país. Em maio, um turista, de 57 anos, morreu no local depois de uma queda enquanto escalava. No ano de 2022, um português também morreu no vulcão após despencar de um penhasco no seu cume, de acordo com a BBC.
Por ser um local de difícil acesso e recomendado para pessoas que possuem experiência nesse tipo de aventura, segundo relatos, a brasileira precisou assinar um termo de responsabilidade que isentava o Parque Nacional Monte Rinjani em caso de acidente no local. Ainda assim, de acordo Priscila Caneparo, professora da Ambra University e pós-doutora em Direito Internacional, o guia pode ser processado, ou até mesmo o governo da Indonésia, visto que o parque é público e administrado pelo Ministério do Meio Ambiente e Florestas.
“A Indonésia possui a lei 10 de 2009, que trata da responsabilização civil para operadores turísticos e parques, e o artigo 1366 do Código Civil diz que os guias e gestores turísticos das trilhas têm a obrigação de zelar pela segurança dos turistas e, caso seja comprovada negligência, pode haver responsabilização na área cível, com indenização. Por conta dessas jurisdições na Indonésia, se afasta o termo de responsabilidade que teria sido assinado por Juliana”, explicou.
Danilo Garnica Simini, advogado e professor de Direito Internacional, também analisa como possível que a família busque pela responsabilização dentro da legislação da Indonésia, caso a negligência seja comprovada. Após esgotados os recursos internos, os parentes têm a opção de procurar por proteção diplomática do governo brasileiro.
“Se o Estado brasileiro entender que deve conceder a proteção diplomática, ele endossará a reclamação dos familiares da vítima e assumirá como seu um dano produzido por outro Estado a um brasileiro”, finalizou.
Guerras de narrativas
Juliana era natural do Rio de Janeiro, morava em Niterói e era formada em Publicidade e Propaganda pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para realizar o percurso no Monte Rinjani, vulcão ainda ativo que se eleva a 3.721 metros de altitude e localizado na Ilha de Lombok, vizinha a Bali, Juliana e outros seis turistas estavam acompanhados de dois guias, segundo as autoridades do parque.
Mariana, irmã da brasileira, relatou ao “Fantástico” que a publicitária disse que estava muita cansada para continuar a trilha no segundo dia e foi abandonada por mais de uma hora antes de sofrer a queda.
“A gente descobriu isso em contato com pessoas que trabalham no parque. Juliana estava nesse grupo, porém ficou muito cansada e pediu para parar um pouco. Eles seguiram em frente, e o guia não ficou com ela”, relatou.
De acordo com informações do parque, Juliana teria entrado em desespero quando se viu sozinha. “Ela não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Quando o guia voltou, porque viu que ela estava demorando muito, ele viu que ela tinha caído lá embaixo”, afirmou Mariana.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o guia Ali Musthofa, de 20 anos, confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a brasileira a descansar enquanto o grupo seguia andando, e destacou que o combinado era apena esperá-la um pouco mais à frente da caminhada.
Ainda segundo Ali, ele ficou apenas “3 minutos” à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro.
“Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, declarou.
Já com o dia claro, outro grupo de turistas que passavam pelo local fez imagens de drone da paisagem e avistaram Juliana, que estava a 200 metros montanha abaixo. O registro chegou até a família da publicitária, que reconheceu suas roupas e iniciou uma campanha pelo resgate.
Devido às condições climáticas do local, as buscas por Juliana tiveram de ser interrompidas ao longo dos quatro dias, o que fez com que a família da brasileira passasse a criticar as autoridades da Indonésia.
Por conta disso, o pai de Juliana, Manoel Marins, decidiu ir ao local para, a princípio, auxiliar no resgate da filha. Na segunda-feira, 23, ele chegou ao aeroporto de Lisboa, em Portugal, rumo ao país asiático, mas não conseguiu embarcar devido a bombardeios da guerra entre Israel e Irã, que fecharam os aeroportos no Oriente Médio.
Horas depois veio a informação sobre a morte da jovem. Os familiares agradeceram pelo apoio recebido. O governo brasileiro lamentou o ocorrido e prestou condolências aos familiares e amigos de Juliana.