A família do ativista palestino Nizar Banat, que morreu durante uma detenção em junho de 2021, apresenta nesta quinta-feira no Tribunal Penal Internacional (TPI) acusações de “assassinato” contra líderes da Autoridade Palestina.
O TPI anunciou no ano passado a abertura de uma investigação sobre crimes cometidos nos territórios palestinos depois da guerra em Gaza de 2014, uma iniciativa rejeitada por Israel mas elogiada pelos palestinos.
Recentemente, o canal Al Jazeera também levou ao tribunal com sede em Haia o caso da jornalista Shireen Abu Akleh: a emissora acusa o exército israelense de ter assassinado a repórter de maneira deliberada em maio.
No caso Banat, esta é primeira vez que um palestino apresenta uma denúncia contra outros palestinos no TPI, informou à AFP o advogado da família, Hakan Camuz.
O ativista de 43 anos era famoso pelos vídeos publicados nas redes sociais em que criticava a Autoridade Palestina e acusava o presidente da organização, Mahmud Abbas, de corrupção.
Em junho de 2021 ele foi detido pelas forças de segurança palestinas e sua morte foi anunciada poucas horas depois.
O médico legista Samir Abu Zarzur apontou sinais de agressões na cabeça, peito, pescoço, pernas e mãos. E afirmou que passou menos de uma hora entre os golpes e sua morte.
O advogado afirmou que serão apresentadas “evidências secretas e informações privilegiadas destinadas apenas ao procurador” do TPI, Karim Khan.
Após a apresentação e a análise do caso, o procurador decidirá se prossegue com as investigações ou não.
A morte do ativista provocou manifestações incomuns em Ramallah, onde fica a sede da Autoridade Palestina na Cisjordânia, com pedidos de justiça e a renúncia de Abbas.
Um tribunal local indiciou 14 membros das forças de segurança, mas todos foram libertados com o pagamento de fiança este ano.
“Quando vimos que estas 14 pessoas foram libertadas sem saber por quê, compreendemos que o regime da Autoridade Palestina, sua polícia e seus serviços de segurança tinham mais autoridade do que o tribunal, estão acima da justiça”, disse Ghassan Banat, irmão de Nizar.
“Por isto decidimos levar o caso para o cenário internacional (…) e pedimos justiça ao TPI, acrescentou.
Ghassan afirma que a família não tem medo de possíveis represálias e conta com o apoio do povo palestino.
Uma pesquisa realizada no ano passado mostrou que 63% da população considerava que a morte de Nizar foi uma “ação deliberada ordenada pelos setores político e de segurança” da Autoridade Palestina.
Nizar Banat “desafiava Mahmud Abbas e dizia a verdade sobre a verdadeira situação da Autoridade Palestina (…) E por isto Mahmud Abbas ordenou sua morte”, disse o irmão.
O caso apresentado ao TPI não acusa diretamente o presidente da Autoridade Palestina, mas outros sete altos funcionários na Cisjordânia.
“Não fazemos mais do que pedir justiça para um homem que não fez nada mais que dizer a verdade sobre o poder (…) Karim Khan não pode ignorar um crime como este e deve investigar”, disse o advogado Camuz.