Fã de rock, o estudante de Educação Física João Vinicius Ferreira Simões, de 25 anos, saiu de Maricá, na região metropolitana do Rio, no fim da tarde de sábado, 9, para ver o show da banda canadense Simple Plan, atração principal desta edição do festival de música I Wanna Be Tour, organizado pela produtora 30e e realizado no Riocentro, centro de convenções situado em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, na noite de sábado, 9. Não conseguiu: durante o show de outra banda, que precedeu a principal, em meio a uma chuva torrencial, João Vinicius encostou em um food truck que estava vendendo alimentos no local e foi eletrocutado.

Levado ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca (também na zona oeste), o jovem não resistiu e morreu, vítima de parada cardiorrespiratória. O show foi realizado, e a banda prestou homenagem ao fã.

“Nossa prioridade agora é identificar os responsáveis (pela morte), vamos fazer isso. Não foi raio que matou o João, foi o choque que ele tomou ao tocar o food truck”, afirma o gerente comercial Roberto Isaac Ferreira, de 44 anos, tio da vítima.

Ele conta que a empresa organizadora do evento ligou para sua irmã (a mãe de João), na noite desta segunda-feira, 11 – dois dias após o episódio, portanto -, lamentou o episódio e se colocou à disposição para auxiliar a família. “Queriam uma reunião com minha irmã, mas ela não está em condições agora.”

João foi enterrado na tarde desta segunda-feira, em Maricá, sob muita comoção. Os avós dele, com quem João morava, fizeram questão de ir ao velório e, emocionados e tristes, precisaram de socorro médico.

“Minha irmã é separada do pai do João, e quando ela se juntou com o atual marido (padrasto de João), ele preferiu ficar na casa dos avós, que eram quem mais conviviam com meu sobrinho”, conta Roberto. “Todo dia meu pai acordava às 5h30 pra levar o neto à academia (de ginástica), onde ele fazia estágio”, narra o tio.

“João era muito apegado aos avós e vice-versa. Agora tenho que cuidar dos meus pais, que estão sentindo muito a falta do neto”, avalia Roberto. A mãe dele tem 74 anos e o pai, 70.

João era calmo, não consumia bebida alcoólica, torcia para o Flamengo e costumava ir a shows de rock. “Ele gostava muito, já tinha comprado ingresso para outro show, em São Paulo, em outubro”, conta o tio.

No sábado, não tinha companhia para aplaudir a banda canadense, mas não mudou de ideia. A mãe dele o levou de Maricá até Niterói, onde conseguiu um ônibus específico para o evento.

“Ela falava muito com o João, controlava, então mandou mensagem, mas a partir das 23h, 23h e pouco, ele não respondeu mais. Quando ligou, atendeu uma pessoa que contou que estavam no hospital. Então ela foi pra lá com o marido, e eu também. Infelizmente recebemos a notícia da morte do João, juntos”, relembra Roberto.

O tio do jovem eletrocutado foi ao evento ainda durante a madrugada de domingo para tentar falar com os organizadores, mas alega que a produção não aceitou recebê-lo. No domingo houve nova tentativa e, depois da intervenção da polícia, segundo Roberto, finalmente entraram. “Tinha fios desencapados no chão, cobertos pela água da chuva.”

A Polícia Civil do Rio informou que a 32.ª Delegacia de Polícia (Taquara) investiga as circunstâncias da morte de João Vinicius Ferreira Simões.

A reportagem tenta contato com os organizadores do evento, após as denúncias feitas pela família da vítima.

No domingo, 10, a empresa que produz o festival afirmou, em nota, que estava apurando o ocorrido junto às autoridades. “Na noite deste sábado, 9 de março, uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro enquanto o evento I Wanna Be Tour era realizado no Riocentro; e o público se dirigiu para a marquise coberta, seguindo os protocolos de segurança. Neste momento, lamentavelmente, ocorreu um incidente na área descoberta próxima a um food truck terceirizado: o jovem João Vinícius Ferreira Simões foi atingido por uma descarga elétrica”, disse.

“O sistema de segurança foi acionado no mesmo instante para atendimento e para as providências de socorro. Apesar do pronto atendimento e de todos os esforços realizados pelas equipes médicas no evento e no hospital, o jovem não resistiu e, infelizmente, veio a óbito. A 30e, produtora do evento, lamenta profundamente e está apurando o ocorrido junto às autoridades. Até então, informações obtidas atestam para a conformidade da operação do food truck. A produtora já estabeleceu um primeiro contato com a família do jovem para prestar solidariedade”, acrescentou.

Em nota, o Riocentro afirmou que “lamenta profundamente o ocorrido e informa que o jovem foi imediatamente socorrido pela equipe de socorro contratada pela organizadora do evento e responsável pela infraestrutura, que o encaminhou ao hospital”. “A administração do centro de convenções está acompanhando o caso de perto junto à organização, para que a família receba toda assistência necessária”, afirmou.