Após 36 anos na política, a família Bolsonaro se vê movendo as peças do tabuleiro de xadrez para se manter viva e influente politicamente. Com o patriarca da família preso e condenado a 27 anos e três meses por participação em uma trama golpista e o filho ’03’ nos Estados Unidos e indiciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), os demais membros começam a esboçar suas estratégias para garantir seus espaços políticos.
O foco desta vez está no Senado Federal, com a família Bolsonaro disputando em peso as cadeiras do Salão Azul. Ao mesmo tempo, a cúpula observa de perto a articulação pela sucessão do capital político do ex-presidente
Pelo jogo que se forma, os bolsonaristas se concentram em ganhar força no Legislativo, aproveitando a reforma de dois terços do Senado e a renovação da Câmara. A cúpula avalia que consegue catapultar projetos ideológicos, como a anistia para Jair Bolsonaro, sem a resistência do Centrão, além de obter maioria para impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para isso, o ex-presidente convocará seus três filhos e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para concorrer às cadeiras no Senado. Apenas um deles concentrar esforços na Câmara dos Deputados.
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ’01’, tentará cravar a sua reeleição à Casa Alta pelo Rio de Janeiro. Dentro do PL, chegou-se a cogitar o senador como escolhido para herdar o capital político do pai, mas ele mesmo descartou essa possibilidade para aliados.
Já Carlos Bolsonaro (PL), atualmente vereador no Rio de Janeiro, prepara as malas para mudar para Santa Catarina e emplacar uma candidatura ao Senado pelo estado sulista. Michelle Bolsonaro, que ainda está cotada para ser vice na chapa bolsonarista à presidência, se aproxima da corrida para o Senado no Distrito Federal, enquanto Jair Renan, vereador em Balneário Camboriú (SC), tem a Câmara dos Deputados como provável destino.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se tornou uma incógnita nos últimos dias. Nos Estados Unidos desde março e indiciado pela PGR por coação no curso do processo da trama golpista, o filho mais ‘radical’ de Jair enfrenta um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Ele é acusado de condutas incompatíveis com o mandato, ao articular sanções ao Brasil para pressionar o avanço do PL da Anistia e tentar travar o julgamento de seu pai no STF.
Enquanto busca alternativas para se esquivar das denúncias, o ’03’ força a todo custo o repasse da herança política do pai para si a fim de concorrer ao Palácio do Planalto. Para atingir o objetivo, intensificou as críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-PB), favorito ao espólio de Bolsonaro. De quebra, abriu um novo conflito, desta vez com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Mesmo articulando uma possível candidatura ao Planalto, aliados e familiares indicam que Eduardo Bolsonaro está mais inclinado a disputar uma vaga no Senado, buscando formar uma trinca de bolsonaristas no Salão Azul por São Paulo. Atualmente, a cúpula conta apenas com Marcos Pontes (PL-SP) e terá, em 2026, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (Progressistas), como companheiro de chapa.

Ex-presidente Jair Bolsonaro
Condenação de Bolsonaro
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no último dia 11 de setembro, em um julgamento que durou nove dias. Foram 4 votos à favor e apenas 1 contrário à condenação.
Bolsonaro é acusado por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Para os ministros, há provas robustas sobre a participação de Bolsonaro na articulação do plano de golpe de Estado.
Votaram à favor da condenação os ministros Alexandre de Moraes, relator do caso, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. O ministro Luiz Fux foi o único que divergiu da pena aplicada ao ex-presidente.
A Corte ainda condenou os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa). O STF também condenou o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do Planalto e delator no processo, e do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos e do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que comandou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro.
A Turma também impôs uma multa de R$ 30 milhões ao réus pelos danos causados, além da perda do mandato de Ramagem na Câmara dos Deputados e dos direitos políticos de todos os réus condenados pelo prazo de oito anos a partir da decisão colegiada. O colegiado também determinou a perda de cargos públicos dos réus e pediu ao Superior Tribunal Militar (STF) a análise da perda de patentes de militares, com exceção de Mauro Cid, pela baixa pena aplicada.