O governo Bolsonaro entra em seu último ano da mesma forma que começou: com caos administrativo e falta de rumo. Além disso, em suas declarações de fim de ano, o presidente deixou claro que continuará a servir apenas à base radical, ao invés de ampliar o seu leque de apoio ao centro – governar para todos os brasileiros, como manda a Constituição, nunca passou pela sua cabeça. No final da gestão, o chefe do Executivo dobrou a aposta no discurso de ódio e na polarização.

É um mau sinal para este ano eleitoral. O STF e o TSE dificilmente conseguirão conter o jogo sujo subterrâneo nas redes sociais, apesar do endurecimento contra as milícias digitais que abertamente atacam a Justiça e o próprio processo eleitoral. A recente enquete digital da revista “Time” em que o presidente foi eleito “personalidade do ano” mostrou que os bolsonaristas continuam a agir com eficiência nas redes. Conseguiram mobilizar cerca de 2 milhões de votos sem usar o Twitter ou Facebook. Tudo indica que empregaram o Telegram, aplicativo russo que opera sem nenhum controle, não presta contas ao Judiciário e tornou-se um ímã para extremistas do mundo todo.

A moderação do presidente contra as urnas eletrônicas vai durar apenas até ficar claro que suas chances de se reeleger evaporaram

Bolsonaro afastou o risco de impeachment ao comprar o Congresso, entregando o Orçamento ao Centrão. Em troca, moderou os ataques às urnas eletrônicas. Meu palpite é que essa contenção vai durar apenas até ficar claro que suas chances eleitorais evaporaram. Na mais do que provável hipótese dele derreter nas pesquisas, voltará a radicalizar usando todas as armas que sacou em 2018. O vale-tudo nas redes já é previsto por João Doria, por exemplo. O PT também indica que vai abraçar esse método, como ocorreu no recente meme da “noivinha do Aristides”, fabricado por um simpatizante.

Na reta final das eleições pode ocorrer uma tensão semelhante ao Sete de Setembro: Bolsonaro deve jogar com a carta da ruptura institucional para tentar arrancar um segundo mandato no desespero. Para o País, a melhor chance é uma força de centro superá-lo ao longo do processo, disputando um segundo turno com Lula. Isso pode diminuir a ameaça golpista. De qualquer forma, o importante é virar a página do pior governo da história e começar um programa de reconstrução. Bolsonaro apostou na balbúrdia para dobrar a democracia e na soltura de Lula para surfar no antipetismo. Poderá finalizar seus dias pregando apenas para o cercadinho, a verdadeira dimensão da sua estatura.