Sei que o Brasil tem problemas bem mais sérios, mas ando preocupado com as relações entre os membros do clã Bolsonaro. Acho que a família que governa o Brasil está precisando discutir o relacionamento. Ao contrário do que pode parecer, essa falta de diálogo não é fruto do distanciamento social, uma vez que nenhum deles respeita esse tipo de recomendação — isso é coisa de petista, comunista ou, pior ainda, democrata. O que está faltando, então, é um bom papo, uma conversa franca, “olho no olho”. Sugestão: por que não chamam a Damares para dar uns conselhos?

Minha preocupação vem dos acontecimentos da última semana, quando o presidente Jair Bolsonaro recebeu uma notícia esquisita: o ex-escondido Fabrício Queiroz e a ex-foragida Márcia Aguiar, sua mulher, depositaram R$ 89 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Acho estranho porque, se algum amigo meu depositasse R$ 89 mil na conta da minha mulher, no mínimo eu gostaria de saber o motivo e origem do dinheiro. Episódio parecido havia acontecido em 2018, mas o presidente disse na ocasião que o amigo estava devolvendo um empréstimo. Empréstimo do quê? Não sabemos — pode ser que ele nem faça ideia. O mais estranho é que, talvez, nem o próprio Queiroz saiba.

Afinal, R$ 40 mil, R$ 89 mil são valores que entram e saem da conta de qualquer brasileiro sem que a gente se dê conta. O presidente gosta de dizer que o Queiroz é de confiança, mas é sempre bom desconfiar. Vamos lembrar que ele passou um ano na casa do advogado da família e ninguém sabia onde ele estava. Em 2018 Bolsonaro revelou que Queiroz já havia feito um depósito na conta de Michelle porque ele “não tinha tempo de sair”. Ué, se ele tem tempo de sobra para sair hoje, que é presidente, por que não teria na ocasião, quando era apenas um deputado do baixo clero? Questionado se tinha um comprovante, o presidente respondeu com a educação de sempre: “Pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, está certo?” No meu próximo imposto de renda, vou tentar responder dessa maneira.

O filho do presidente, senador Flavio Bolsonaro, passou por episódio semelhante. Após uma quebra de sigilo bancário, promotores do Rio de Janeiro descobriram também — veja só que coincidência — que Fabrício Queiroz havia feito um depósito de R$ 25 mil na conta de Fernanda, a esposa dele. Em depoimento ao Ministério Público, Flavio disse: “Não sei a origem desse dinheiro”. Uma dica para os Bolsonaro: conversem mais em casa com suas esposas. A honestidade é a base de qualquer relacionamento.

Se um amigo depositasse R$ 89 mil na conta da minha mulher, eu gostaria, pelo menos, de saber a origem desse dinheiro