Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Falsos ‘salvadores da pátria’, como Lula e Bolsonaro, continuam seduzindo os tolos

Foto: EVARISTO SA/AFP

O ser humano é um bicho insatisfeito por natureza, isso é fato. O que não é necessariamente bom ou ruim, aliás. É apenas uma condição, e nada além.

A insatisfação nos move em busca de melhorias pessoais e materiais. Mas é também quem turva o horizonte, ainda que este esteja claro e ensolarado.

E é um dos mais democráticos dos sentimentos humanos, já que atinge a todos indiscriminadamente: ricos ou pobres, homens ou mulheres, bonitos ou feios. Isso porque não depende da realidade objetiva, mas da visão subjetiva.

BRASILEIROS

A mais recente pesquisa sobre o tema, realizada pelo Instituto IPSOS, com quase 20 mil pessoas de 25 países, inclusive o Brasil, aponta um grau de insatisfação ‘global’ com nações e instituições de 57%. Por aqui, entretanto, o número é bem maior: 69%. Os brasucas não andam nada satisfeitos com o rumo da prosa.

Mas o que de pior nos mostra a pesquisa, seja em Banânia ou no mundo (e por aqui o número é maior novamente), diz respeito à percepção negativa dos cidadãos com suas classes política e empresarial. Como a maioria as enxerga com desconfiança e sentimentos ruins, reciprocamente é grande o número de pessoas que buscam um ‘salvador da pátria’, normalmente encarnado em líderes populistas.

Eu sei; vocês já viram esse filme antes, né? Então. Como aproximadamente 72% dos brasileiros veem ‘a sociedade falida’, ‘a economia manipulada’ e ‘políticos e partidos despreocupados com o cidadão comum’, aceitariam um ‘líder forte para retomar o País dos ricos e poderosos’.

BOLSONARO, TRUMP E AFINS

Não é à toa, portanto, a recente ascensão de políticos populistas e extremistas como Jair Bolsonaro e Donald Trump. No mundo, em média, 44% das pessoas aceitariam ‘um líder que quebrasse as regras para consertar o País’. No Brasil, esse número se torna ainda mais alarmante: 61%.

As pessoas, erroneamente, é claro – e a história é pródiga em provar -, acreditam que um único líder poderia lhes trazer a satisfação que tanto buscam. Mas é justamente o contrário o que ocorre em 100% dos casos. Os países que investiram na democracia e fortaleceram suas instituições foram os que ‘deram certo’. Já os que apostaram em autocratas e ditadores ‘deram errado’.

Particularmente, sou um insatisfeito nato e incorrigível. Sempre enxergo o lado negro da Força, hehe. Mas, ainda assim, jamais deixei-me levar por sentimentos extremos e por salvadores da pátria mais falsos que nota de 3 reais; vide os Lula, Bolsonaro e Collor da vida. E ter votado em dois deles – os dois últimos – por ojeriza ampla, geral e irrestrita ao primeiro, nunca mudou minha crença na absoluta correção da célebre lição de Winston Churchill: ‘a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela’.