O 08.01.23 jamais sairá da memória dos brasileiros.

Não lembraremos dos eventos de vandalismo como um ato patriótico, ao contrário do que muitos de seus artífices almejavam, mas sim como mais um episódio de extremismo. Curiosamente, a data será recordada com sentimento ainda pior do que o destinado a manifestações violentas de junho de 2013. Isso é curioso, pois os que destruíram o patrimônio público no DF atacavam os vândalos de 2013, inclusive por conta do uso da depredação como método de ação.

O modus operandi os igualou, embora os objetivos e a eventual participação intelectual de agentes públicos tornem o ato de 2023 inadmissível ataque à democracia.

Na democracia, destruição de bens e lesão a pessoas em prol de uma ideologia é o extremismo em ação. Felizmente, os recentes atos ensejaram ampla reprovação

Assim, ao menos quanto à ausência de civilidade, a massa que depredou Brasília não se diferencia dos black blocs que arruinaram capitais brasileiras ou de alguns movimentos que destruíram patrimônio privado e público por discordar de governos democráticos.

São extremos que se arrogam legitimidade e que se criticam, mas que em muitos aspectos se aproximam.

Um democrata acredita no Estado democrático de Direito e busca defendê-lo, valendo-se de mecanismos legais. É antidemocrático justificar a barbárie com base numa causa. Na democracia, destruição de bens e lesão a pessoas em prol de uma ideologia é o extremismo em ação. Felizmente, os recentes atos ensejaram ampla reprovação. Todavia, é preocupante notar que algumas pessoas teimam em atribuir a violência a indivíduos infiltrados. Ao assim procederem, ignoram que muitos filmaram a ação e publicaram seus vídeos em redes sociais, com perfis repletos de postagens em apoio ao ex-presidente. Eles surgem orgulhosos da destruição que promoveram. Neles não se nota um pingo de arrependimento.

Os adeptos da tese dos infiltrados também esquecem de fazer uma singela reflexão. Afinal, se você integra uma massa – acreditando ser pacífica – que passa a depredar patrimônio público de maneira evidente, seria natural ao menos abandonar o grupo a partir desse instante. Contudo, imagens das câmeras de segurança dos prédios vandalizados exibem indivíduos fazendo selfie, recarregando celular ou passeando em meio ao caos. É esse tipo de “patriotismo” que os brasileiros almejam? O 08.01.23 deve servir de exemplo à Nação. Deve ser lembrado para nunca ser repetido. O regime democrático pede civilidade. Atos extremistas demandam punição com imediata aplicação da lei. Democratas e patriotas não devem aceitar vandalismo, especialmente contra instituições democráticas.