Falso médico vira réu por morte de paciente e forja a própria morte para fugir

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Falso médico vira réu por morte de paciente e forja a própria morte Foto: Reprodução/TV Globo

Por trás do nome Fernando Henrique Dardis se esconde um caso de fraude médica e judicial. As informações são do programa Fantástico, da TV Globo. Antes de assumir essa nova identidade, Fernando Guerrero já era conhecido da polícia por se passar por clínico geral na Santa Casa de Sorocaba, interior de São Paulo, usando um diploma falso. Agora, além de réu por exercício ilegal da medicina e pela morte de uma paciente, é investigado por forjar a própria morte para fugir da Justiça.

Em uma tentativa de confirmar a suposta morte, a equipe de reportagem esteve no Cemitério Campo Santo, em Guarulhos, no início de junho. Mas, o que descobriram foi mais uma peça no quebra-cabeça da farsa.

Em maio de 2011, Fernando deixou Guarulhos e foi contratado pela Santa Casa de Sorocaba como se fosse médico. Atuou diariamente, diagnosticando, medicando e atendendo pacientes, apesar de nunca ter concluído a faculdade — cursou apenas até o terceiro ano, segundo o Ministério Público.

Em outubro do mesmo ano, uma das pacientes atendidas por ele, Helena Rodrigues, morreu de infarto um dia após ser medicada por Fernando. Ela se queixava de dores abdominais e vômitos, sintomas que ele desconsiderou como sinal de algo grave. A família da paciente afirma que o atendimento foi negligente.

Fernando também foi apontado como responsável por recrutar Camila Aline da Silva Matias Rocha, que atuava como falsa médica sob o nome “Bruna”. Ela era procurada pela Justiça por envolvimento em um homicídio durante um assalto.

Depois de ser denunciado, Fernando mudou legalmente de nome. Desde então, vem acumulando adiamentos no processo judicial, usando atestados médicos para justificar ausências no tribunal.

Em janeiro, sua defesa apresentou à Justiça uma certidão de óbito, afirmando que ele havia morrido no Hospital Brás Cubas, em Guarulhos, no início daquele mês. O documento trazia o nome da médica Claudia Obara, madrinha de casamento de Fernando e próxima da família. Procurada pelo Fantástico, Obara negou ter assinado a certidão e disse que sequer estava no hospital naquele dia.

Apesar da suposta morte, os promotores descobriram que Fernando compareceu pessoalmente a um cartório em Guarulhos — dois meses após estar oficialmente morto — para atualizar sua ficha, inclusive com uma nova foto.

A pergunta que ainda intriga a Justiça e o Ministério Público é: quem foi enterrado na sepultura registrada com o nome de Fernando? O número de registro no sistema do cemitério municipal de Guarulhos hoje aponta outro nome, e a prefeitura abriu uma sindicância para apurar a troca.

Entre os documentos apresentados para simular o óbito estão uma nota da funerária, indicando velório e enterro, e um atestado com o logotipo do Hospital Brás Cubas. O responsável por registrar a certidão de óbito no cartório foi Ricardo Rodrigues dos Santos, funcionário do RH do próprio hospital.

A empresa Med-Tour, ligada à família de Fernando, negou envolvimento e disse estar surpresa com as revelações. Já a funerária, por meio de seus advogados, afirmou que nenhum serviço foi prestado para Fernando.

Apesar da prisão decretada, Fernando continua foragido. Funcionários do hospital afirmaram que ele seguiu trabalhando no setor administrativo mesmo após o mandado ser expedido. Promotores suspeitam de conivência de policiais de Guarulhos.

A defesa anterior de Fernando, responsável por enviar os documentos à Justiça, diz que foi enganada e já registrou boletim de ocorrência. A nova defesa enviou um vídeo no qual Fernando aparece vivo e alega estar sendo injustamente acusado.