Cresci ouvindo a seguinte frase: “juiz fala nos autos”. Bem, acho que isso não vale para ministros da Suprema Corte, ao menos no Brasil. Ou, faça-se justiça, para alguns ministros.

Luís Roberto Barroso, ministro do STF, vem se especializando em falas e frases polêmicas, sobretudo as de cunho político. Historicamente ligado às esquerdas do País, o magistrado vem colecionando embates públicos com o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliados próximos e o séquito de extremistas de direita que o apoiam.

Em novembro do ano passado, em Nova York, ao ser assediado por um bolsonarista inconveniente, Barroso mandou ver: “Perdeu, mané. Não amola”. Em entrevista, também no final de 2022, declarou: “Nós já superamos os ciclos do atraso e eu espero que uma luz espiritual possa iluminar essas pessoas e fazer com que elas voltem à realidade e cessem as agressões, as violências e os pedidos de golpe”.

Ao lado de Alexandre de Moraes, Barroso é o ministro do Supremo Tribunal Federal mais atacado pelos bolsonaristas. Pavio curto, não costuma levar desaforo para casa, o que o mantém na fogueira bélica do bolsonarismo. Porém, ainda que provocado, não cabe, ou não deveria caber, manifestações de confronto político, pois não apenas estimula a guerra como alimenta o ódio ao Judiciário.

Mas Barroso não está só. Gilmar Mendes é outro “falastrão” incontinente, tendo como alvos prediletos o senador Sergio Moro e a Operação Lava Jato. Mendes já chamou os integrantes da extinta força-tarefa de “organização criminosa”. Aliás, Barroso e Gilmar já digladiaram entre si, ao vivo e em cores, para todo o Brasil, durante uma sessão do Supremo.

Em um dos mais lamentáveis episódios da nossa Justiça, Gilmar Mendes disparou, certa vez, contra o colega, em uma discussão processual: “Ah, agora vou dar uma de esperto e conseguir a decisão do aborto, de preferência na turma com dois, três ministros”. Barroso, por sua vez, proferiu duro discurso em desfavor do rival:

“Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo V. Exa. aqui fazer um comício, cheio de ofensas, grosserias. V. Exa. não consegue articular um argumento. Já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim”.

E continuou: “A vida para V. Exa. é ofender as pessoas. Não tem nenhuma ideia. Nenhuma. Só ofende as pessoas. Qual é sua ideia? Qual é sua proposta? Nenhuma! É bílis, ódio, mau sentimento, mal secreto, uma coisa horrível. V. Exa. nos envergonha, V. Exa é uma desonra para o tribunal. Uma desonra para todos nós. Um temperamento agressivo, grosseiro, rude. É péssimo isso. V. Exa. sozinho desmoraliza o tribunal. É muito penoso para todos nós termos que conviver com V. Exa. aqui”.

Agora, a nova incontinência verbal de Barroso se deu durante um evento da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Brasília: “Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”. Contextualizada, a frase não significa nada de mais, mas nos dias de cortes de internet e lacração em rede social, um pingo é letra, e o barulho está formado. Não há como não reconhecer, ao menos como imprudente, a fala do ministro, além de francamente provocativa.

Iniciei com uma frase conhecida e encerro com outra: “Em boca fechada não entra mosquito”. A Justiça deveria ensinar a alguns ministros a serem, além de cegos, mudos.