A melhor e mais recente resposta ao presidente Jair Bolsonaro e ao seu projeto golpista na hipótese de ele perder a reeleição tem uma só palavra: basta. Ela veio de Edson Fachin, presidente do TSE e ministro do STF. Bolsonaro reunira em Brasília 40 embaixadores para “provar que urnas eletrônicas são vulneráveis”. Ao final de sua fala (que contou com Power Point ruim de inglês), o presidente conseguiu em troca 40 opiniões contrárias as suas e 40 certezas de que ele intenciona mesmo dar um golpe no Brasil se tiver de deixar o Planalto pelo sufrágio popular. Bolsonaro estava em busca de cumplicidade, encerrou o evento mais isolado que nunca. No desespero de quem não tolera frustração, bravateou: “as Forças Armadas não assistirão quietas às eleições”. Fachin respondeu, e sua palavra tornou-se senha para a reação do mundo democrático contra o autocrata brasileiro. Basta.

Bolsonaro repete que contará com o apoio do Exército. Basta. Militares que se alojam no Planalto estão bastante alvoroçados. Basta. Entre eles pode-se destacar o ministro da Defesa, general da reserva Paulo Sérgio Nogueira. Basta. Aliás, falando-se nele, ressalte-se que já extrapolou todos os limites republicanos e democráticos da crítica. Além disso, ele não tem nada a ver com o processo eleitoral, assim como as Forças Armadas não têm de se imiscuírem nesse terreno – é sempre a mesma litania. De onde o general tirou que é de sua competência institucional ficar criticando urnas eletrônicas? Segundo a Constituição, o que ele tem de fazer é patrulhar fronteiras. Então, basta.

Ao que se assiste é a velha tática da extrema direita de inventar um inimigo interno para tentar manter e inflar a animosidade de correligionários contra aqueles que julgam inimigos – inimigos imaginários. Foi assim no início da jornada republicana, quando os fanáticos pelo ex-presidente Floriano Peixoto inventaram que havia gente tramando o retorno à monarquia. Essa foi a mentira dos florianistas logo depois de 1895. A “vulnerabilidade” das urnas eletrônicas é a falácia dos bolsonaristas no começo do século XXI. Já houve um assassinato claramente ligado a questões de ideologia. Chegou o momento, portanto, de todos os defensores da democracia dar um definitivo basta aos golpistas, que ousam desrespeitar até o Poder Judiciário, incansável na luta pela manutenção do Estado de Direito. As Forças Armadas ficaram desgastadas e desprestigiadas em decorrência das torturas e dos assassinatos que alguns de seus membros impuseram a adversários ideológicos ao longo
da ditadura militar. O Exército, principalmente, é hoje material fatigado. Por que, então, alguns de seus generais tanto insistem no retorno à política?