O crime organizado no Brasil não se limita mais às atividades tradicionais, como o tráfico de drogas e armas. Hoje, essas organizações expandiram suas operações para setores como imobiliário, mineração, combustíveis e serviços públicos, conforme revelado por um estudo lançado nesta terça-feira, 25, pela Estera Brasil em colaboração com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Pierpaolo Bottini, advogado criminalista e membro do conselho consultivo da Esfera, explica que devido aos lucros significativos do tráfico, o crime organizado ingressa de forma competitiva em outras áreas, até mesmo ganhando licitações.

O estudo revela a presença de 72 facções no Brasil, com duas delas atuando nacionalmente: o PCC, presente em 23 estados, e o Comando Vermelho, em 20.

O Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. As facções criminosas têm potencial para lucrar cerca de R$ 335 bilhões com o tráfico dessa droga, o que representa 4% do PIB nacional.

Camila Funaro Camargo Dantas, CEO da Esfera Brasil, aponta que um dos principais desafios no enfrentamento ao crime organizado no Brasil é a fragmentação dos dados e a falta de ferramentas para uma análise detalhada das facções.

“É essencial melhorar a governança. Precisamos de dados para entender o crime como um todo, e não de maneira isolada. O fortalecimento do COAF também é crucial, pois é um órgão que pode ser melhor estruturado. Apresentaremos o estudo ao Ministro Lewandowski. Estamos determinados a combater esse problema, assim como as 50 empresas que colaboraram com o estudo”, afirma.

Pierpaolo Bottini argumenta que o Brasil necessita de uma legislação que obrigue o compartilhamento de dados de segurança pública e regule o uso dessas informações para evitar violações da privacidade.

“É imprescindível aprovar uma lei geral de proteção de dados na segurança pública. A LGPD não aborda especificamente os dados de segurança pública, e precisamos de uma legislação que permita o uso adequado dessas informações.”