10/10/2024 - 14:08
A nova novela das 19h da TV Globo chegou com tudo já na estreia, em 30 de setembro, apresentando fortes emoções em uma trama que retrata o subúrbio brasileiro, com os conflitos e o dia a dia típicos de uma população que supera adversidades — e, como diz o título, dá a “Volta por Cima”. O folhetim de Claudia Souto leva para o horário uma abordagem diferente do que o público estava acostumado a acompanhar e daquilo que ela já havia escrito até agora para a faixa, “Pega Pega” (2017) e “Cara e Coragem” (2022).
O subúrbio como ambiente principal da trama animou o ator Fabrício Boliveira, 42 anos, que divide o protagonismo de seu personagem Jão com Madalena, a Madá, vivida por Jéssica Ellen, 32 — com quem vai formar par romântico ao longo dos capítulos. Em bate-papo com o site IstoÉ Gente, ele falou sobre a importância da abordagem e descreveu a felicidade em fazer parte dessa nova cara das 19h.
+Leia mais em:
Em ‘Volta por Cima’, Juliano Cazarré interpreta gaúcho e diz: ‘Um abraço num momento difícil para o RS’
“A felicidade tem mais a ver com o todo da novela, você vê que é um produto sobre ação, que tem um pouco de humor, de romance, tem drama, é um apontamento do que deve passar nesse horário das sete, que ficou órfão de uma cara. A novela vem para ratificar isso de algum jeito”, comemorou o artista baiano, que vive seu primeiro protagonista em telenovelas.
Boliveira destaca que o enredo provoca um debate necessário sobre a relação do indivíduo com o trabalho, o dinheiro e a construção de relações sociais em um sistema capitalista.
“A novela faz apontamento para os subúrbios, coletividade, as peculiaridades. Acho que isso é uma grande vitória. São essas grandes características do subúrbio que retratam mais o Brasil. Questiona o dinheiro, como você lida com a ideia do dinheiro, de onde vem esse dinheiro, ideia do capitalismo. É um dinheiro adquirido de que forma? Da ‘uberização’ do outro? A Claudia (autora) acertou [ao representar] o que você é capaz de fazer para ter dinheiro, que ideal a gente construiu de felicidade através do dinheiro, o capitalismo, quem são vocês a partir disso e como vocês se relacionam com isso”, enumera ele.
O tema proposto representa uma realização pessoal do ator, que busca proporcionar, por meio de sua arte, uma reflexão sobre justiça social.
“A gente está sempre discutindo a realidade que nos compõe. A gente se constrói como artista a partir das necessidades como um todo, olhando para o universo que nos cerca. A gente precisa olhar com mais empatia. Tem a diferença social financeira do nosso país. [É preciso analisar] como a gente pode fazer para equalizar, fazer essa sociedade ser mais harmônica. Eu tô sempre ligado no meu social, com uma visão micro e macro. A gente está discutindo esse tipo de coisa, o privilégio, a necessidade de cotas, a taxação de grandes fortunas”, diz.
O artista pondera que não se trata exatamente de atingir um cenário em que as condições sociais estejam em pé de igualdade, mas de haver equidade entre as classes e de construir uma sociedade mais harmônica. E ele imprime no seu personagem justamente esse sentimento.
“Não se trata de ser igual, mas é ser harmônico nas diferenças. Entender que não há ninguém em situação muito pior do que outra”, idealiza ele.
Jão, apelido de Jorge e abreviação de Jorjão, chamou atenção do público com sua força e determinação logo nos primeiros capítulos ao bater de frente com Edson Bacelar (Ailton Graça), dono da empresa de ônibus Formosa, onde ele trabalha desde muito jovem. Após se esforçar para conquistar o sonhado diploma de Administração, ele se candidatou a um cargo melhor na companhia, mas acabou vendo a vaga ser ocupada por um amigo da esposa do patrão.
“Esse homem saiu dessa casta social e deseja estar nesse lugar. Ele consegue entender essas diferenças, e apontar o que parece ser um pouco mais justo. É o sentimento do trabalhador brasileiro, que pensa em ter melhores condições, em melhorar as condições de vida. A novela abre o olhar para questões sociais”, observa o ator.
Sem preconceito de raça ou classe
“Volta por Cima” apresenta um grande número de personagens negros não por ter como cenário central um recorte da vida suburbana, que é formada pela miscigenação tão característica do nosso país. Eles também habitam o “núcleo rico” da trama, e seja num ou noutro ambiente, a raça não é uma questão.
Perguntado se esse tratamento dado à figura negra, antes comumente presente na dramaturgia em situação de inferioridade e alvo de preconceito, Boliveira comemora ser um começo, mas que ainda há um longo caminho a percorrer.
“Eu acho que a gente ainda não chegou no lugar de equidade. Há o que ser alcançado e de forma geral. Nas artes a gente ainda não vê esse número de pessoas, mais negros e mais pobres estando em outros lugares sociais. Essa novela é esse retrato dessa possível transformação”, prevê o artista, que se apresenta na novela como nunca tinha sido visto antes ao adotar um visual característico da cultura negra.
O ator revelou que escolha pelos dreads foi pessoal e que a produção acabou aproveitando o estilo para dar cara ao corajoso e batalhador Jão, seu primeiro protagonista em novelas da Globo.
Fabrício Boliveira é baiano de Salvador, tem 42 anos e se dedica às artes cênicas desde a adolescência. Atuou no teatro, cinema e TV, fazendo sua estreia em novelas da Globo em 2026, com “Sinhá Moça”. De lá para cá, já são mais de 15 participações em produções na emissora.
Ver essa foto no Instagram