Em uma antiga fábrica em Havana, um grupo de artistas inaugurou há dez anos um labirinto de música “techno”, com galerias de obras plásticas, fotografias, moda e diversão. Atualmente, a Fábrica de Arte (FAC) oxigena a cultura cubana e funciona como um espaço alternativo mundialmente conhecido.

“Desde que abrimos, (o espaço) tem sido conduzido por artistas, sempre olhando para a obra e as mensagens”, disse à AFP X Alfonso, o fundador e atualmente líder do projeto vanguardista. “Nunca pensamos em outra coisa a não ser apresentar obras interessantes”, acrescenta.

Localizado no bairro de Vedado, o terreno industrial se destaca devido a chaminé no telhado de uma antiga usina de óleo.

Todas as semanas, de quinta a domingo, centenas de jovens pagam cerca de quatro dólares (R$ 19,92) para assistirem a apresentações de diversos gêneros musicais, espetáculos de dança, peças de teatro, ou, simplesmente, para se perder entre os corredores, repletos de imagens e desenhos, com um mojito na mão.

“Aqui você pode ver coisas que nem imagina que poderia encontrar”, contou à AFP Olivia Rodríguez, uma artista de 30 anos, enquanto aguardava para ouvir o renomado ‘salsero’ cubano Issac Delgado. Seu show fez parte das celebrações do 10º aniversário da FAC.

– “Combustível para a alma” –

Em outubro de 2019, a revista americana Times incluiu a Fábrica de Arte em sua lista dos cem melhores lugares para visitar no mundo.

Com a falta de um museu de arte contemporânea em Havana, a fábrica, juntamente com lugares semelhantes como La Lavandería e Estudio 50, manteve o trabalho dos jovens criadores de Cuba em alta.

“Isto é como um posto de combustível para a alma e é disso que se trata”, explicou X Alfonso, um compositor e intérprete, vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum Folclórico no ano de 2022 pelo disco “Ancestros”, com o grupo Síntesis, formado por seus pais.

Fazer um projeto dessa magnitude funcionar todos os fins de semana não tem sido fácil nos últimos anos, quando o incentivo de Obama desapareceu e Cuba começou a enfrentar constantes cortes de energia e escassez de combustível.

Com cerca de 300 trabalhadores, a empresa é uma “união de negócios privados dentro de um local estatal” que se autofinancia, sem patrocinadores, esclarece X Alfonso, orgulhoso de não dever “nada a ninguém”.

“O mais importante é isso, que a fábrica seja vista como um ser vivo, que vive em Cuba, com todas as necessidades e todos os problemas que existem. Mas continua vivo e continua tentando viver, sobreviver”, acrescenta.

Em outubro passado, a fábrica enfrentou uma ameaça de fechamento pelas autoridades, na tentativa de reduzir o consumo de eletricidade. É “uma das pequenas coisas das milhares que nos aconteceram”, garante o líder do projeto.

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