Em 1º monólogo de sua carreira, Fabiana Mattedi leva humor aos palcos americanos

Na montagem, atriz brasileira faz relato pessoal para propor reflexão sobre beleza e envelhecimento

Divulgação/Lívia Sá.
Fabiana Mattedi. Foto: Divulgação/Lívia Sá.

Fabiana Mattedi vai estrelar o primeiro monólogo de sua carreira em grande estilo. A atriz baiana é estrela de “Notes on Collagen: Notas sobre Colágeno”, que será apresentado em NY, nos EUA, através do qual ela faz um relato, com muito humor, sobre beleza, envelhecimento e identidade.

A montagem teatral conta a história de uma mulher imigrante de meia-idade que se vê, inesperadamente, questionando e desconstruindo as ilusões de confiança e segurança que a sociedade promete por meio da juventude e da aparência. A performance, em inglês, acontece em novembro, no The Tank – teatro independente de referência que sempre dá espaço para artistas locais apresentarem seus novos projetos.

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Graduada em Artes Cênicas pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia — a primeira instituição do gênero no Brasil — e formada na Actors College for Theatre and Television, em Sydney, Austrália, Fabiana Mattedi começou a carreira em 1999. Em seu currículo constam a peça “Nada será como antes”, nos palcos do Rio de Janeiro, e participações no extinto “Zorra total”, da Globo, e no humorístico “De Cabelo em Pé”, no Multishow.

Morando em NY desde 2017, Fabiana Mattedi fez parte do elenco da produção Off-Broadway em maio deste ano do clássico “Vestido de noiva”, de Nelson Rodrigues, e em 2024, participou como protagonista do show “Sins of the South”, disponível na plataforma Oxygen True Crime.

A artista também já foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo Brazilian International Press Awards por seu trabalho no evento “Hora de Clarice”, uma celebração mundial pelo aniversário da escritora Clarice Lispector, e em 2018 integrou o elenco na montagem “Dentro do Coração Selvagem”, com o Group.BR – única companhia brasileira em NY – um espetáculo imersivo também com base na obra de Clarice, que também ganhou temporada online durante a pandemia.

Em bate-papo para IstoÉ Gente, a atriz fala sobre a experiência de levar aos palcos americanos um texto autoral, e conta como tem sido abordar, em uma cultura diferente da nossa, um tema ainda considerado polêmico, como beleza e envelhecimento.

Você está estreando uma peça solo nos EUA em que vai abordar etarismo e envelhecimento. Qual a importância de usar a arte para levantar reflexões sobre o tema?

Acho que a arte é uma ferramenta que serve como espelho para que o público perceba uma dada temática de uma forma diferente, algo onde no seu cotidiano ele não estaria atento a nuances, mas que a arte possibilita ressaltar pontos que podem passar despercebidos. Seja com o recurso do humor, seja com uma reflexão fora da zona de conforto, isso faz com que a plateia possa se deparar com sentimentos que estejam adormecidos dentro dela. 

Você acredita que temas podem ser entendidos da mesma maneira por mulheres do mundo todo, ou percebe diferenças entre brasileiras e americanas?

Antes de encenar esse texto, eu procurei o feedback de várias pessoas diferentes das minhas raízes, mulheres americanas e de outras nacionalidades, homens e o retorno que tive foi bem semelhante. Todas as mulheres se sentem desgastadas por essa cobrança demasiada com a aparência. Esse é outro ponto que a arte oferece: alinhar sentimentos universais que mesmo que se expressem diferentes com base na base social, econômica e cultural de cada pessoa, de cada mulher, eles nascem de algo que não tem fronteira, a humanidade que nos habita.

E como tem sido a experiência de levar aos palcos um texto seu? Tem planos para outros?

Tenho desenvolvido meu trabalho como Storytelling aqui em NY e tem sido muito curioso me desvendar através dessas estórias, me mostrar, retirar filtros, e mergulhar em mim mesma. É como se, ao contar para o outro, eu contasse pra mim mesma e, com isso, me vejo melhor. São sempre estórias mais curtas, com um arco menor de ação. Com o solo, o desnudar foi mais profundo e, com isso, a exposição é maior. Se mostrar vulnerável é sempre por um triz, não tem como se esconder atrás de um personagem, mas a recompensa é gratificante: poder ouvir que outras pessoas se identificam com aquilo que às vezes achamos sentir sozinhos. Sim, tenho outros projetos que quero fazer das minhas palavras ponte do meu mundo interno com o externo, seja nesse formato de solo ou um livro.

Você, aliás, mora em NY desde 2017. Percebe diferenças entre o mercado artístico nos dois países?

Ironicamente, trabalhei mais em NY nesses últimos 8 anos do que nos 13 anos que morei no Rio e isso talvez já responda um pouco à pergunta. Mas acho que isso talvez tenha mais a ver com o mercado em NY e não reflita em si o mercado americano.

Pensa em voltar a trabalhar no Brasil? Fazer novela é um sonho?

Estou aberta a oportunidades de trabalho que possam ser no Brasil, sim, voltar para trabalhar, mas não propriamente para morar. Fazer novela seria uma experiência muito interessante e com certeza enriquecedora.