Fabiana Karla: especialista esclarece mitos sobre QI, inteligência e superdotação

Atriz tem falado abertamente sobre o tema nos últimos meses; confira

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Atriz descobriu diagnóstico tardiamente Foto: Reprodução/Instagram

Fabiana Karla tem falado abertamente sobre seu diagnóstico de superdotação. Descoberta no início de 2025, aos 49 anos, a atriz explicou que gostaria de descontruir mitos em relação à condição, que ainda é erroneamente associada a pessoas com QI elevado ou consideradas gênios.

“Eu queria desmistificar que uma pessoa superdotada sabe de tudo. Ela pode ter coerência em algumas coisas, maior QI em algum aspecto, mas não quer dizer que é em tudo. Na hora de falar as coisas, eu tenho ‘verbo’ e seria uma ótima advogada. Mas tenho muitas máscaras de defesa que vão esgotando a gente ao longo da vida”, desabafou durante o programa “Sem Censura”, da TV Brasil.

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Em entrevista à IstoÉ Gente, o neurocientista Ricardo Galhardoni explica porque a condição é popularmente definida dessa forma: “É um erro comum”, começa. “A superdotação é um termo que abrange indivíduos com funcionamento cognitivo significativamente acima da média, frequentemente acima de dois desvios-padrão no QI (geralmente acima de 130), mas vai muito além disso.”

“A inteligência nesses casos geralmente se expressa em conectividade neural acelerada, pensamento divergente, sensibilidade sensorial, intensidade emocional e estilos de aprendizagem próprios”, continua.

Ele detalha que, geralmente, as altas habilidades envolvem talentos em áreas específicas, como matemática, linguagem, artes, liderança ou criatividade — o que ainda costuma ser associado a pessoas consideradas gênios.

Mas o profissional enfatiza: “Na prática clínica, vemos que essas pessoas podem não se adaptar bem ao ambiente escolar tradicional, manifestando comportamentos que são mal interpretados como desatenção, oposição ou ansiedade.”

Como identificar os sinais de superdotação

Comumente, é fácil observar os indicativos mais comuns da condição. Dentre eles, estão o vocabulário avançado, a memória incomum, o hiperfoco em temas de interesse, a criatividade precoce e a sensibilidade emocional ou sensorial.

Mas é importante contar com ajuda profissional para obter o diagnóstico certo e abrangente, que envolve a avaliação neuropsicológica (QI e testes específicos de talentos); entrevistas clínicas e análise do histórico de desenvolvimento;
e preferencialmente, uma observação longitudinal, ou seja, por um longo período de tempo.

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Após a certeza, pessoas com superdotação podem precisar de algumas adaptações ao longo do tempo: “Elas pensam, sentem e processam o mundo de forma diferente. Isso exige ambientes que estimulem sua curiosidade e respeitem seu ritmo de aprendizado”, detalhe ele, descrevendo o que a atriz já contou ter passado.

“Sempre fui bem-humorada, tenho leveza na vida, mas também essa tensão, uma urgência, que me deixava muito angustiada, aflita e me trazia sofrimento”, explicou a artista no inicio do ano. “Sem essa adaptação, podem surgir sintomas secundários como frustração, tédio, isolamento, crises existenciais e desmotivação. Adaptar não significa superproteger, significa reconhecer e respeitar a neurodiversidade”, continuou Galhardoni.

Diagnóstico tardio

O neurocientista faz um alerta para a demora na identificação da condição, que pode causar:

  • Autoimagem distorcida (“sou estranho”, “sou preguiçoso”, “sou inadequado”).
  • Quadro de ansiedade, depressão ou crise de identidade.
  • Desempenho escolar abaixo do potencial (sub rendimento).
  • Relacionamentos sociais prejudicados.
  • Diagnósticos errôneos (TDAH, TEA leve, TOD, etc.).

“Na prática clínica, é comum atendermos adultos brilhantes com histórico escolar conturbado e baixa autoestima, que só descobrem sua superdotação na fase adulta. Um diagnóstico precoce pode proteger sua saúde mental e dar sentido à sua trajetória.”

** Estagiária sob supervisão

Referências Bibliográficas

* Ricardo Galhardoni é Graduado em Gerontologia e Odontologia pela Universidade de São Paulo, com Doutoradoe Pós-Doutorado em Neurologia pela Faculdade de Medicina da mesma instituição. Ele também é diretor técnico da Bright Brains, healthtech especializada em neuromodulação não-invasiva que integra inteligência artificial para personalizar e otimizar tratamentos voltados à saúde mental.