A extrema direita alemã se prepara para romper um novo tabu no país durante um congresso que começa nesta sexta-feira fazendo campanha para uma saída da União Europeia, poucos dias antes de uma votação crucial sobre o Brexit no Reino Unido.

O assunto será debatido pelos delegados da Alternativa para a Alemanha (AfD), reunidos a partir da tarde e até segunda-feira em Riesa, na região da Saxônia, um de seus redutos eleitorais.

O objetivo do congresso é desenvolver a estratégia a adotar para as eleições europeias de 26 de maio.

Registrando vitórias nos últimos três anos por seu posicionamento anti-imigrante, ao ponto de se tornar em 2017 o principal partido da oposição na Câmara dos Representantes frente aos conservadores de Angela Merkel e aos social-democratas, o AfD retorna às fontes.

O movimento nascido em 2013 se fez conhecido por sua rejeição do euro na Alemanha. No entanto, sobre a saída da UE, seus membros hesitam ainda em ir longe demais diante de uma opinião alemã majoritariamente pró-europeia.

O esboço do programa eleitoral de 58 páginas que será posto em votação na segunda-feira acusa a UE de “se tornar uma estrutura não democrática (…) concebida por burocracias pouco transparentes e descontroladas”.

Exige reformas profundas até 2024, quando chega ao fim a próxima legislatura europeia, e adverte que, caso contrário, “uma retirada da Alemanha ou uma dissolução ordenada da União Europeia (…) são necessárias”. Um cenário apelidado de “Dexit” na Alemanha, por Deutschland..

“O AfD tenta reabilitar uma posição nacional-alemã” no debate, avalia Klaus-Peter Sick, historiador e cientista político, entrevistado pela AFP.

“Esse posicionamento é uma normalização dessa direita nacional em relação ao que acontece com os vizinhos na Itália ou na França. Ao avançar seus peões neste terreno, a AfD realiza um teste dentro do próprio partido e com seu eleitorado para saber se é um tema que se sustenta”, acrescenta.

O texto ainda causa divisão dentro do movimento e não é certo que será adotado como está.

À frente da lista da AfD para a eleição de maio, Jörg Meuthen, eurodeputado e líder dos moderados do partido, sugere substituir o prazo de uma saída em cinco anos – em caso de ausência de reformas em profundidade na UE – pela formulação mais vaga de um “período de tempo razoável”.

– Segundo fôlego –

Este congresso acontece pouco antes da votação dos deputados britânicos, em 15 de janeiro, sobre o acordo de Brexit negociado entre Londres e a União Europeia com, em caso de rejeição, a ameaça de uma saída brutal do Reino Unido.

A história do pós-guerra da Alemanha permanece intimamente ligada à construção europeia, que por muito tempo serviu como uma identidade nacional substituta para um país esmagado pela vergonha após a barbárie nazista.

Os alemães continuam a ser um dos mais ligados à UE: 51% deles disseram que “confiam bastante” na UE em uma pesquisa do Parlamento Europeu realizada em novembro de 2018, nove pontos a mais do que a média europeia. E 23 pontos a mais que em 2015.

Ainda tabu, o euroceticismo, e até mesmo a eurofobia, ainda não foram aderidos completamente pela AfD.

O seu programa também defende, para além do regresso das moedas nacionais, um desafio à política agrícola comum e, especialmente, ao combate à “islamização da Europa”.

Citando cuidadosamente a questão de um “Dexit”, a AFD abriu uma nova frente política no país após a questão migratória, como o partido busca um segundo fôlego após a saída programa, o mais tardar em 2021, da chanceler Angela Merkel, até agora seu principal alvo.

Este congresso também acontece em um momento crucial para o partido que se estagna nas pesquisas em torno de 15% e continua profundamente dividido entre uma corrente muito radical, às vezes próxima do movimento neonazista, e uma moderada.

Um representante da primeira corrente, André Poggenburg, também anunciou sua saída do partido, considerando que ele não mais defende uma “linha patriótica”.