Alta das bolsas internacionais atinge o Ibovespa, mas ainda é insuficiente para ajudá-lo a apagar a queda (-1,79%) da véspera, quando fechou aos 103.250,02 pontos (-1,79%). A sinalização de que os juros no Brasil (e no mundo) ficarão elevados por mais tempo que o esperado, sem indícios de queda no radar por ora, conforme leitura do mercado da ata do Copom, gera certa prudência aos investidores. Além disso, persistem os temores de desaceleração da economia mundial e continuidade das medidas restritivas contra covid-19 na China, que reforçam pressão inflacionária.

O minério de ferro voltou a fechar em queda no mercado chinês, e pesa nas ações do setor na Bolsa. O petróleo também cede, também diante de preocupações com a demanda e ante dúvidas a respeito de novas sanções sobre a commodity na Rússia. Porém, os papéis da Petrobras sobem perto de 1,8% depois do recuo ontem.

Para Frederico Mesnik, CEO da Trígono, enquanto não houver um sinal de solução da guerra na Ucrânia e de redução das medidas restritivas na China por conta da covid-19, dificilmente haverá melhora do Ibovespa. “Se não tiver uma visibilidade sobre isso, sobre quanto e até onde os juros subirão no mundo não haverá melhora”, afirma.

Já algumas ações ligadas ao ciclo de crescimento econômico sobem, apesar do avanço das preocupações com a inflação, após crescimento das vendas do varejo, em março. Além disso, a notícia de que o governo prepara uma medida para zerar a alíquota do Imposto de Importação de 11 produtos, entre eles, o aço, é bem vista provisoriamente.

“Já vimos isso antes, gera distorção. O que me preocupa é o aumento dos combustíveis”, afirma Mesnik, da Trígono.

De todo modo, por enquanto, o Ibovespa, mas em meio à instabilidade. Lá fora, o ganho é maior, com Nova York subindo mais de 1%. Os mercados mostram “recuperação técnica”, afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, em nota. Contudo, lembra que hoje alguns diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que pode trazer volatilidade aos negócios.

Sobre a ata do Copom, divulgada hoje após a Selic subir de 11,75% para 12,75% ao ano na semana passada, Padovani diz que o documento indica que a inflação segue pressionada em um ambiente local e externo bastante incerto. “Portanto, a comunicação indica que não faz sentido se comprometer com níveis de taxas de juros. Nada mudou em relação ao comunicado.”

Para Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, a ata “não desata nós. A única diferença é que o Banco Central reconhece que expectativas estão desancoradas e que a volatilidade das commodities têm impacto forte inflação”, avalia. De acordo com Giuberti, a sensação do mercado ao ler o documento é de que o BC “está atrás da curva” com relação à inflação e que será difícil ver a Selic começando a cair, por ora.

Às 11h10, o Ibovespa subia 0,32%, aos 103.578,87 pontos.