Expressões faciais podem revelar tendência à depressão, mostra estudo

O sofrimento psíquico pode deixar marcas visíveis no rosto, e essas mudanças sutis na forma de se expressar podem ajudar a identificar o risco de depressão. Essa é a conclusão de um estudo realizado na Universidade de Waseda, no Japão, publicado recentemente na revista Nature Scientific Reports.

Os pesquisadores analisaram 64 universitários japoneses, com idade média de 21 anos. Outro grupo, formado por 63 avaliadores da mesma faixa etária, foi recrutado para observar os participantes. Todos responderam a um questionário de sintomas depressivos e foram divididos em dois grupos: indivíduos saudáveis e aqueles com transtorno leve de humor, também chamado de depressão limítrofe.

Os voluntários que seriam analisados gravaram vídeos curtos, de cerca de 10 segundos, apresentando-se diante da câmera. Os avaliadores assistiram a esse material sem áudio e atribuíram notas subjetivas, indicando se a pessoa parecia amigável, natural, simpática, nervosa ou falsa, entre outras impressões. Paralelamente, aplicaram um sistema de análise automatizada de expressões faciais, baseado em inteligência artificial, para identificar movimentos musculares sutis.

Os resultados mostraram que participantes com tendência depressiva exibiam redução nas expressões faciais positivas, ou seja, eram percebidos como menos expressivos, naturais e agradáveis. As análises de vídeo também confirmaram alterações em músculos ligados ao sorriso e ao olhar, frequentemente associados à perda de vitalidade emocional.

“O artigo é muito interessante porque tenta oferecer mais uma ferramenta para que a gente possa fazer um diagnóstico precoce, evitando a evolução do quadro. Mas é um método difícil de ser aplicado por enquanto, pois poucos lugares têm essa tecnologia”, avalia o psiquiatra Ricardo Feldman, do Einstein Hospital Israelita.

Estudo nacional

Assim como o trabalho japonês, a psiquiatra Jennyfer Domingues, pesquisadora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, também investiga como a comunicação verbal e não verbal pode revelar sinais de sofrimento emocional e risco suicida. “Nosso foco é justamente treinar profissionais de saúde para reconhecer esses sinais sutis que, muitas vezes, aparecem antes da fala direta sobre a questão”, diz.

Segundo a pesquisadora, essas alterações não representam, isoladamente, um diagnóstico de depressão, mas funcionam como sinais de alerta. “Na prática clínica é possível perceber que os pacientes em sofrimento perdem o brilho no olhar, falam com voz mais monótona e demonstram menos energia facial, mesmo que não relatem tristeza”, detalha. “São sinais que merecem atenção, especialmente quando observados junto a outros sintomas, como perda de prazer, dificuldade de sono e desesperança”, explica.

Feldman reitera que a observação das expressões deve ser vista como parte de uma avaliação integral. “A análise das expressões faciais é um complemento para outros itens indispensáveis no diagnóstico da doença, como a anamnese e os exames físicos, psíquicos e complementares quando necessário”, frisa.

Além da aplicação clínica, a pesquisa reforça a importância da atenção humana aos sintomas depressivos. “Esse estudo destaca outro ponto muito importante: que devemos olhar mais um para o outro, ficarmos mais atentos a expressões faciais, tom de voz e linguagem não verbal, além de nos preocuparmos com as outras pessoas, perguntando se está tudo bem e se precisa de alguma ajuda, por exemplo. Assim melhoramos as relações e podemos conseguir notar sinais de que algo não vai bem”, conclui o médico do Einstein.

Fonte: Agência Einstein

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