E se o Expresso do Oriente voltasse a circular? A companhia francesa ferroviária (SNCF), que exibe em Paris seus vagões art déco recentemente reformados, planeja colocar novamente o famoso trem sobre os trilhos.

O grupo ferroviário público expõe nesta quarta-feira sete vagões dos anos 1920 na estação Gare de l’Est de Paris, após quatro anos de cuidadosa restauração. Todos os horários de visita estão lotados.

Na verdade, apenas três vagões-restaurante dos sete apresentados pertenceram ao “Orient Express”, que circulou de 1883 a 1977 entre Paris e Istambul. Esses vagões do trem mais famoso da história, junto com o Transiberiano, têm um interior decorado com muito requinte. Esses locais reuniam pessoas famosas, turistas com muito dinheiro, comerciantes, diplomatas e até espiões.

Os outros quatro vagões são ainda mais espetaculares, mas circulavam apenas até as margens do Bósforo. O material utilizado nos vagões dormitórios era diferente em cada trem.

“A empresa [que administrava a linha] não utilizava carros-salão para os grandes expressos europeus”, explica Arthur Mettetal, responsável pela área de patrimônio. “Estes compartimentos eram reservados para trajetos mais curtos, como o Trem Azul que chegava à Costa Azul”.

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Mas foi um desses vagões-salão, o Pullman, que serviu de cenário para o filme “Assassinato no Expresso do Oriente”, de 1973, baseado o livro homônimo de Agatha Christie. “De repente, este vagão se converteu no ‘estilo Expresso do Oriente’ no imaginário coletivo, com o interior revestido com madeira talhada e desenhos de ramos de flores, e o piano-bar. É possível admirar os painéis produzidos na Finlândia, desenhados pelo decorador René Prou para o restaurante do Estrela do Norte (Paris-Amsterdã).

E também o Flecha de Ouro (Paris-Londres), com seus cristais e painéis de madeira de caoba de Cuba, obra do famoso mestre vidreiro e joalheiro francês René Lalique.

– Patrimônio ferroviário –

A SNCF comprou a marca Orient Express da Companhia Internacional de Vagões-Leito após a linha de conexão direta com Istambul deixar de funcionar em 1977. Mas não fez grandes investimentos até que começou a comprar os vagões do ilustre trem, em 2011.

“Para restaurá-los, nós mergulhamos em nossos arquivos para encontrar os projetos originais, padrões de tecidos, etc”, conta Guillaume de Saint Lager, diretor-executivo do Orient-Express, a empresa que cuida da gestão do patrimônio. “Recorremos a artesãos excepcionais”.

“Evidentemente, é um investimento importante, da ordem de 14 milhões de euros, mas é um investimento para o patrimônio ferroviário”, justifica o presidente da SNCF, Guillaume Pepy.

Estas peças do museu saem de vez em quando do depósito onde são guardadas, localizado na capital francesa, para algumas exposições ou convenções. Fazem parte “de um exemplo do cuidado da SNCF na conservação do patrimônio”, afirma Guillaume Pepy.

Uma exposição anterior, no Instituto do Mundo Árabe de Paris, atraiu mais de 250 mil pessoas em 2014. “Foi devido ao sucesso dessa exposição que a SNCF decidiu criar uma filial para gerar valor para a marca e iniciar um programa de renovação dos vagões”, conta Arthur Mettetal.


A SNCF espera obter lucros com o interesse renovado por esses trens. Para isso, cedeu no ano passado 50,1% do Orient-Express ao grupo Accor.

“Nosso desejo, evidentemente, é que o Expresso do Oriente volte a circular por toda Europa”, confirma Guillaume Pepy.

Funcionários da empresa encontraram vagões antigos na Polônia, que agora estão em processo de análise para se saber se é possível reformá-los e adaptá-los às novas exigências de conforto para os passageiros.

“É uma questão na qual estamos trabalhando”, explica. No momento, tudo está em fase de estudo, apesar de considerar que até o meio deste ano a companhia seja capaz de decidir sobre o lançamento ou não da linha Expresso do Oriente.


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