Marcia Haydée não para. Em março, esteve na Bélgica para remontar sua versão de A Bela Adormecida. No começo do mês, foi para o Uruguai para recriar sua Carmen. Em novembro, o destino será a Coreia do Sul, onde também fará A Bela Adormecida. Marcia está acostumada com a correria, gosta dela. O contato com novos bailarinos a inspira e alimenta sua vitalidade. Em 18 de abril de 2017, ela completará 80 anos.

Três projetos celebrarão as oito décadas daquela que é uma das maiores divas da dança mundial. Um documentário, que será feito pela Indiana Produções, com roteiro de Julia de Abreu e direção de Daniela Kallmann; um livro, pela Barléu Edições; e uma exposição, com curadoria de Gringo Cárdia.

Produtora cultural e irmã de Marcia, Monica Athayde Lopes é a idealizadora e responsável pelas iniciativas, que se tornaram seu “projeto de vida”. E quem melhor para fazer isso do que alguém que não só ouviu, mas viveu muitas das histórias com a artista?

Em 1980, Monica foi encontrar Marcia na Alemanha. O que seria uma visita de seis meses virou permanência de 17 anos. “Ela se tornou meu ídolo. Tudo o que sou devo a ela. É uma mulher extraordinária. Vi os grandes teatros do mundo colocarem tapete vermelho para Marcia. Fiquei muito impactada. Sabia que minha irmã era um expoente da dança, mas não tinha noção do quão respeitada e idolatrada ela era lá fora”, conta Monica. “O mais sensacional é que quanto mais ela subia na vida, mais humilde se tornava. Mexeu muito comigo a maneira como ela lida com o ser humano. Isso fez com que eu fosse ficando com ela.” Monica foi responsável pelas turnês nacionais e internacionais do Stuttgart Ballet. Em 1997, voltou para o Brasil.

Há cerca de cinco anos, a produtora cultural pesquisa e organiza arquivo sobre a irmã. “Comecei a pensar nos projetos e vi que já tem uma geração que não sabe quem é a Marcia”, diz. “Essa mulher vai fazer 80 anos. Ela não anota nada. Não tem agenda, sabe todas as datas de memória. É inenarrável o poder dela.”

Gringo Cardia concorda que é preciso resgatar e mostrar a trajetória de Marcia. “O que falta no Brasil é o reconhecimento da história das pessoas. E para a Marcia, com um trabalho tão importante, é fundamental ter essa homenagem.”

Agora, um dos maiores desafios de Monica é driblar a crise para viabilizar os projetos. Conta que já conseguiu reduzir os custos, principalmente em relação a direitos autorais. Mas, assim como ocorre com a irmã, não se intimida com as dificuldades. “Para mim, os momentos de crise são os mais criativos de qualquer país e qualquer ser humano. Estou muito animada. Alguém tem de fazer alguma coisa. E eu estou fazendo com muita honra.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.