Na fachada do MIS, Museu da Imagem e do Som, na Av. Europa, a grande foto do mestre do suspense é emoldurada pelos dizeres – Hitchcock – Bastidores do Suspense. Dentro, como nas portas de cemitérios – Nós que aqui estamos por vós esperamos -, há uma advertência. “Entre por sua conta e risco.” Nesta quinta, 12, os primeiros a entrar serão convidados. Mas, a partir de amanhã, o público poderá compartilhar uma exposição sobre Alfred Hitchcock (1899-1980) da qual o curador do evento, também secretário de Cultura do município, destaca a relevância.

Antes de mais nada, André Sturm responde à pergunta que não quer calar – pode o secretário de Cultura de São Paulo ser curador de uma exposição no MIS? “Comecei a trabalhar nesse projeto em 2016, antes de ser secretário. Trabalhei nas minhas folgas, fiz as reuniões fora da secretaria. E não ganhei nada. Fiz pelo bem comum”, proclama. “Queria homenagear Alfred Hitchcock porque foi o primeiro grande cineasta a se tornar conhecido do público, a tal ponto que seu nome virou adjetivo, hitchcockiano. Mas também porque foi um precursor de aspectos técnicos e estéticos que até hoje são estudados. Hitchcock preparava minuciosamente seus filmes. Dizia que filmar era passar o roteiro pela câmera. Cada elemento, enquadramento, detalhe tem uma função narrativa.”

Ele até tentou trazer uma exposição pronta. Havia uma na Espanha, que alguém visitou e achou fraca. Sturm planejou a “sua” exposição. Selecionou filmes, cenas e com a expertise do Atelier Marko Brajovic, que já trabalhou em outros projetos do MIS, como as exposições de David Bowie, François Truffaut e Renato Russo, planejou os espaços pelos quais o público vai trafegar. São 17 filmes, a começar por Blackmail, Chantagem e Confissão, de 1929. Os mais conhecidos estão todos lá – O Estrangulador de Loiras, A Dama (Mulher) Oculta, as duas versões de O Espião Que Sabia Demais, A Sombra de Uma Dúvida, a parceria com Salvador Dalí, Quando Explode o Coração, Festim Diabólico, Janela Indiscreta, Ladrão de Casaca, O Homem Errado, Intriga Internacional, Os Pássaros, Marnie e, cereja do bolo, Psicose.

Você abre o baú de Festim Diabólico, a corda está pendurada e lá dentro você vê o vídeo do estrangulamento da vítima de Farley Granger e John Dashl. Ali está o milharal de Intriga Internacional, e o avião? Surpresa! O fac-símile de uma página do roteiro indica que, por pouco, o filme não se chamou O Homem no Nariz de Lincoln. Teria feito o mesmo sucesso? Difícil. Achando que seria muito complicado filmar no Monte Rushmore, onde estão esculpidas as faces dos presidentes, Hitchcock reproduziu-o em estúdio. A exposição não tem seu (mini) monte, mas tem fotos e fotos decupando as cenas emblemáticas.

Em relação a Psicose, além da fachada do (gótico) Bates Motel, o espaço dedicado ao filme leva o espectador a uma bifurcação – uma via leva a uma atividade em que o público tem de interagir (o chuveiro? Talvez), outra leva à escadaria em que o detetive Arbogast é assassinado. Hitchcock está em toda parte. Em cenas dos filmes, em vídeos.

Na quarta-feira, 11, tudo ainda era um caos porque a exposição ainda estava sendo montada. A seu discípulo, François Truffaut, ele explicou que o suspense não é mistério, nem pregar sustos. O suspense consiste em fornecer certas chaves ao espectador e suprimir outras, de forma a deixá-lo num permanente estado de angústia ou desconforto pelo que poderá ocorrer, até porque tudo isso está sempre relacionado a crimes. O susto pode não ser o objetivo, mas até hoje é quase impossível ver cenas de Psicose – o ataque no chuveiro – sem dar pulos na poltrona.

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Nesta sexta-feira, 13, haverá uma maratona Hitchcock no auditório do MIS. A partir das 23h, serão exibidos Os Pássaros, Trama Macabra e O Homem Que Sabia Demais, na versão de 1956. Sorry, mas os ingressos estão esgotados. Mesmo assim, a exposição estará aberta toda a madrugada.

Dia 13 de agosto, data da morte do cineasta, os ingressos serão franqueados. E em setembro, de 4 a 9, haverá uma mostra com 20 filmes.

HITCHCOCK

MIS. Av. Europa, 158; 3093-7800. 3ª a 6ª, 10h/21h, sáb., 10h/22h, dom. e fer., 11h/20h. Abre 6ª (13). R$ 6 e R$ 12. Até 21/10

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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