Dezenas de agentes de segurança foram feitos reféns em motins em presídios no Equador nesta quinta-feira (31/08) horas depois de ao menos quatro carros-bomba explodirem em Quito e outras cidades, perto de prédios do órgão responsável pelas penitenciárias. As autoridades atribuem esses ataques a uma retaliação à transferência de presos e realização de batidas policiais em prisões.

“Estamos preocupados com a segurança dos nossos funcionários”, disse o ministro do Interior equatoriano, Juan Zapata, numa coletiva de imprensa.

Estes tipos de ataques são um novo exemplo do poder do crime organizado num país que até recentemente era um oásis de paz entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína.

Os incidentes ocorrem poucos dias após o término de um sangrento primeiro turno das eleições presidenciais, com o assassinato de um dos favoritos ao pleito, o candidato Fernando Villavicencio.

Em poucas horas, entre a noite de quarta e a manhã desta quinta-feira, quatro carros-bombas explodiram, dois deles em Quito, capital do país, e outros dois em Machala e Pasaje, duas cidades da província meridional de El Oro, na fronteira com o Peru. As explosões não deixaram vítimas.

Motins

O maior motim ocorreu na prisão de Cuenca, onde os presos detiveram 57 agentes, incluindo 50 guardas prisionais e sete policiais. Um total de 600 policiais e soldados permaneceram fora da prisão desde quarta-feira, sem entrar na instalação.

Nas redes sociais, tornou-se viral um vídeo alegadamente gravado no interior da prisão de Cuenca, aparentemente pelos polícias e guardas prisionais detidos, onde apelaram ao governo para encontrar uma solução que permita a sua libertação.

Outros 15 guardas estão detidos na prisão de Machala, segundo relatos locais, algo que ainda não foi confirmado oficialmente.

Também houve uma tentativa de motim no centro correcional juvenil Virgilio Guerrero, de Quito, onde adolescentes provocaram um incêndio no segundo e terceiro andares do centro, obrigando os bombeiros a fazer um grande deslocamento para controlar as chamas sem aparentemente nenhuma vítima.

Possível reação à operação de busca em presídio

Para a polícia e o governo, tanto os carros-bomba como os motins são uma resposta do crime organizado às intervenções para desarmar os grupos criminosos que controlam penitenciárias e uma retaliação pela transferência de presos entre presídios. Em meio à sangrenta guerra entre gangues, as prisões no país se tornaram centros de operações de grupos criminosos e cenários de vários massacres.

As explosões e os motins ocorreram poucas horas depois de uma intervenção massiva de 2.200 policiais e militares na prisão de Latacunga, localizada na província de Cotopaxi, cerca de 70 quilômetros ao sul de Quito, e presumivelmente controlada pela gangue criminosa autodenominada Los Lobos.

Isso explicaria o fato de, segundo as autoridades, os carros-bomba de Quito tenham sido direcionados contra edifícios vinculados ao Serviço Nacional de Atenção Integral às Pessoas Privadas de Liberdade (Snai), o órgão estatal responsável pelo controle e administração das 35 prisões do Equador.

A operação no presídio de Latacunga apreendeu 49 armas brancas e dois coletes à prova de balas, entre outros objetos proibidos, à semelhança de outras intervenções realizadas anteriormente em outros presídios com o objetivo de deter a série de massacres carcerários que, devido aos confrontos entre estas gangues, deixaram mais de 400 prisioneiros assassinados desde 2020.

Semanas atrás, no complexo penitenciário de Guayaquil, que abriga cerca de 12.300 detentos, foi encontrado na posse dos presos um arsenal de armas de guerra incluindo fuzis, lançadores de granadas e granadas.

Pela primeira vez, a polícia e os militares entraram numa das prisões presumivelmente controladas pelos Los Lobos para apreender armas, o que gerou motim em outras prisões controladas pelo mesmo grupo criminoso, como as das cidades de Cuenca, Azogues e Machala.

Transferência de presos

Na quarta-feira as autoridades transferiram ainda os seis detidos pelo assassinato em 9 de agosto de Fernando Villavicencio para evitar enfrentamentos entre gangues, informou Wagner Bravo, ministro de Segurança.

Autoridades equatorianas afirmaram que detiveram ao menos 10 suspeitos de envolvimentos com as explosões registradas em Quito. Essa foi a primeira vez que ocorreu um suposto ataque a bomba simultâneo na capital do país. Um episódio semelhante foi registrado no ano passado em Guayaquil, um dos epicentros da crise de violência no Equador, onde fica o maior porto do país e a grande porta de saída da cocaína traficada pelo crime organizado.

Os atuais ataques fazem parte da crescente onda de violência em que o Equador está imerso, que fez com que o país passasse de 5,8 para 25,32 homicídios dolosos por 100 mil habitantes em cinco anos em 2022, o maior número de sua história, com uma série de assassinatos e massacres ligados ao crime organizado e ao narcotráfico.

(EFE, AFP)