Explicando os micheques para os bolsominions

Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Explicando os micheques para os bolsominions

'Pedindo socorro em código', diz internauta após suposta agressão de Bolsonaro contra Michelle
'Pedindo socorro em código', diz internauta após suposta agressão de Bolsonaro contra Michelle Foto: Divulgação

Jair Bolsonaro e seus pimpolhos jamais conheceram um salário na vida. Políticos eleitos recebem “subsídios”. Antes de se tornar deputado, o atual presidente era militar, ou seja, já vivia pendurado na teta estatal, às custas dos pagadores de impostos do País.

Deputados e vereadores, casos do clã Bolsonaro, além do tal subsídio recebem uma cota parlamentar para ser utilizada na contratação de pessoal, gastos de gabinete e demais despesas relativas ao exercício da função.

Flávio Bolsonaro está envolvido em uma investigação que apura, dentre outros crimes como lavagem de dinheiro e organização criminosa, a tal “rachadinha”, que é a devolução de parte dos salários dos funcionários ao político que os contratou.

No caso do presidente, a suspeita recai sobre uma “funcionária-fantasma”, coincidentemente filha do notório Fabrício Queiroz, lotada em seu gabinete em Brasília, enquanto exercia a atividade de personal trainer no Rio de Janeiro.

Em tese, o suposto crime ocorria assim: a pimpolha do Queiroz não trabalhava para Bolsonaro, ou seja, para o governo, leia-se o povo brasileiro. Porém, constava na folha de pagamento do gabinete do então deputado federal. Mas não é tudo.

A filha, conforme apurou o Ministério Público fluminense, transferia a maior parte dos seus salários para o papis e a mamis, que, por sua vez, irrigavam, com depósitos em dinheiro vivo, as contas do bolsokid Flávio e sua esposa.

Porém, outra pessoa foi uma felizarda receptora do dinheiro. Ou “dinheiros”. Trata-se de Michelle Bolsonaro. A primeira-dama recebeu quase 100 mil reais em cheques oriundos do casal Queiroz. A explicação? Bem, estamos todos aguardando.

Lá atrás, quando parte da história veio à tona, o presidente, todo corajoso, disse tratar-se de um empréstimo de 40 mil reais – em dinheiro vivo, como sempre – a um “amigo de décadas”. Perguntado se havia um contrato ou recibo, mandou ver (ao repórter):

“Pergunte para sua mãe os recibos que ela dá pro seu pai!”

Recentemente, uma reportagem da revista eletrônica Crusoé mostrou que o valor é muito maior que os tais 40 mil reais. Seriam, na verdade, 89 mil reais. Documentos obtidos pelo MP mostram que beiram os 94 mil reais o montante depositado.

Questionado sobre os novos fatos por um repórter de O Globo, o presidente repetiu a agressão: “Vontade de encher sua boca de porrada”. Resta saber se ficará apenas na vontade, já que amigos milicianos não faltam à família Bolsonaro.

Em se materializando as suspeitas e os indícios, Bolsonaro cometeu, em tese, os crimes de peculato e concussão. No mínimo, improbidade administrativa. Mas deixando o juridiquês de lado, o fato é que o presidente da República pode ter feito o seguinte:

Contratado uma funcionária (ou funcionários) que não precisava. Gastado o nosso dinheiro para pagar os salários desta – ou destes, vá saber – funcionária. Embolsado parte desse cascalho (que nós pagamos), através dos cheques do Queiroz e esposa.

Ainda não entendeu, bolsominion? Eu desenho: lembra quando o Lula embolsou parte da grana superfaturada em contratos da Petrobras? Pois é. É a mesma coisa, mas com valores bem menores. Afinal, o tipo de ocasião faz o tamanho do ladrão.

Lembra quando a Dilma comprou uma refinaria em Pasadena, nos EUA, por mais de 1 bilhão de dólares, sendo que a sucata valia, no máximo, 500 milhões de verdinhas, e encheu as burras do PT e partidos aliados?

Lembra do Aécio Neves e a JBS? Lembra da mala de dinheiro do assessor do Temer? E dos 52 milhões de reais, em espécie, no cafofo do Gedel? E dos dólares na cueca do assessor do deputado petista? Lembra do Zé Dirceu, bolsominion?

Pois é. Você, com razão, ficou muito P da vida, não é mesmo? Todos ficamos. Por isso, até, defenestramos a “petralhada” do poder. Acreditamos que o “mito” dizia a verdade quando bradava contra os corruptos e a corrupção. Só esquecemos de perguntar, quais:

Qual corrupto? Qual corrupção? Qual valor? Que tipo?

Ao que parece, para a bolsolândia, Queiroz não é corrupto. Rachadinha não é crime. Oitenta ou noventa mil reais não é dinheiro. Os Bolsonaros não devem ser investigados. Michelle, a primeira-dama, não tem de explicar os cheques depositados.

Por quê? Ora, porque é dinheiro de pinga. Porque 99.99% dos políticos eleitos também contratam sem precisar e fazem “rachid”. Porque Lula e o PT roubaram muito mais. Porque ladrão conservador de direita é melhor que ladrão progressista de esquerda.

A imprensa persegue Bolsonaro? Sim, persegue. Essa mesma imprensa pegava leve com o PT? Sim, pegava. E daí? O que o MP já descobriu, a imprensa noticiou e Bolsonaro se calou, ou melhor, xingou, é mentira? Por que os cheques na conta da “Micheque”?

Eu não sei quanto a você, bolsominion amestrado, mas, para mim, rachadinha é crime! Para mim, se comprovado, Flávio, Jair, Michelle ou o Bolsonaro que seja, são criminosos! Para mim, pouco ou muito, dinheiro roubado do povo é… dinheiro roubado do povo!

Entendeu? Não? Então junte-se à turma do “Lula livre” e seja feliz, ruminando alfafa e zurrando por aí. Vocês se merecem.